Em síntese: O filme “Contatos imediatos
do terceiro grau” pertence à categoria da ficção científica. Apresenta a
aproximação e a aterrissagem de uma nave espacial, que provoca grande
espanto entre os homens pelos fenômenos sinistros assim desencadeados,
mas que finalmente é portadora de mensagem de paz. Os homens da terra
chegam a embarcar-se nela. Assim o filme pretende tranqüilizar o público
a respeito de habitantes de outros planetas. Todavia o enredo de
“Contatos imediatos do terceiro grau” é menos rico em mensagem do que o
de “2001. Odisséia no espaço”; este filme abordava questões fundamentais
relativas à origem e à vocação do homem assim no tocante ao problema
“homem x máquina”.
“Contatos imediatos (…)” lembra o
“mistério” do Triângulo das Bermudas ou do Diabo, excitando sentimentos e
emoções corroboradas pela grandiosidade de suas cenas e beleza do seu
colorido e do seu som.
Comentário: Está em voga o filme
“Contatos imediatos do Terceiro Grau” de Steven Spielberg, atraindo
multidões de diversas capitais do Brasil e do mundo. As razões pelas
quais este fascínio se exerce, são diversas, merecendo, sem dúvida, a
atenção dos estudiosos. Eis por que abaixo dedicaremos alguma reflexões à
referida película.
O enredo do filme
A película abre-se no deserto de Sonoro
(México), onde alguns exploradores militares examinam aviões lá
abandonados em 1945, tendo desaparecido os respectivos pilotos.
A seguir, em Municie (Estados de
Indiana, U.S.A.) aparece um menino de quatro anos de idade, chamado
Barry que percebe a presença de fenômenos estranhos em sua casa e nos
arredores: luminosidade, ventanias, arremessos de utensílios domésticos,
abalos de móveis, etc. O seu pai Roy é eletricista; enviam-no a
examinar as instalações elétricas de Wyoming, onde falta luz em
conseqüência de desabamento de cabnos. Roy dirige-se ao local, mas em
viagem é acometido pelo estranho fenômeno de luminosidade, ventanias,
ruído de motores, pânico em torno de si… Tais fatos preocupam Roy, que
começa a ter a intuição de um bloco de rocha, em forma de torre, que
para ele deve ter alguma significação. Desenha e talha tal bloco, levado
pela percepção (telepática? Extra-sensorial?) do mesmo. Um belo dia, a
televisão dá notícia de derramamento de gás venenoso na região de
Wyoming, onde existe a famosa “Torre do Diabo” (bloco maciço de rocha).
Roy para lá se dirige com a sua esposa… O menino Barry desaparecera,
arrebatado pela onda dos fenômenos estranhos (…).
O Governo norte-americano, na região da
Torre do Diabo, construíra uma enorme estação receptora dos discos
voadores e de seus tripulantes, cuja presença nas imediações da terra
fora captada por técnicos. Queria estabelecer contatos com tais seres
extra-terrestres mediante sinais musicais, que o engenheiro francês
Lacombe estipulara reproduzindo melodias indianas. Todavia as
autoridades militares desejavam afastar o povo da referida região; por
isto é que anunciavam envenenamento da atmosfera local. Roy, porém, e
sua esposa, juntamente com numerosos populares, acorriam à Torre do
Diabo, cujo acesso era severamente vedado. Enfrentando todas as ameaças,
Roy prova que o ar não está infeccionado no lugar (tira a máscara
anti-gás) e decididamente põe-se a galgar a montanha “Torre do Diabo”
com sua esposa. Chegando ao cume, tem a visão de bela estação espacial,
onde os engenheiros se preparavam para recepcionar uma nave espacial
prestes a aterrissar. Esta desceu realmente ao solo; dela desembarcaram
pilotos e oficiais desaparecidos desde decênios (haviam sido levados por
discos voadores) assim como o menino Barry; o contato mediante sinais
musicais e luminosos foi efetuado… Em conseqüência do bom relacionamento
travado, embarcaram na nave espacial diversos homens, inclusive o
eletricista Roy…
Assim se termina o enredo, que, em
última instância, parece significar que, embora os discos voadores sejam
à primeira vista terrificantes nada há de se temer da parte de seus
tripulantes; haveria mesmo possibilidade de entendimento amigáveis
entres seres terrestres e extra-terrestres.
O filme, de modo geral, é impressionante
tanto pelo seu enredo original como pela riqueza de suas cores e seus
sons. A menção da “Torre do Diabo” contribui para avivar, talvez
subconscientemente, os sentimentos do público já despertados por filmes
como “O Exorcista”, “A Profecia” e outros. Além disto, pode-se observar
uma alusão ao Triângulo das Bermudas tanto pela referência a Fort
Lauderdale como pelo desaparecimento (e reaparecimento) de oficiais da
Marinha e da Aeronáutica, que assinalam o início e o fim do filme.
Sabe-se que na região do Caribe, também chamada “Mar do Diabo” e
“Triângulo da Morte” têm ocorrido graves desastres de aviação e de
navegação, não se encontrando vestígio dos tripulantes e passageiros
acidentados. O pânico que tais desastres têm suscitado no público, leva
alguns estudiosos a supor que as pessoas assim desaparecidas hajam sido
raptadas por habitantes de outros planetas em excursões à terra; cf. PR
224/1978, pp. 335-347.
Perguntamo-nos: que dizer a respeito de tais preocupações?
2. Habitantes de outros planetas
A hipótese de existirem habitantes em
outros planetas e, por conseguinte, naves espaciais fabricadas pelos
mesmos não entra em choque com a mensagem do Cristianismo. A rigor, Deus
pode ter criado seres inteligentes adaptados às condições de vida de
outras regiões do universo o primeiro pensador cristão que tenha
formulado esta hipótese, data do século XV: é o Cardeal Nicolau de Cue
na sua obra “De docta ignorantia” (1440); afirmava (na sua linguagem
imprecisa) não haver uma estrela da qual estejamos autorizados a excluir
a existência de seres humanos, por muito diferentes que sejam de nós.
Foi, porém, no século XIX e no século XX que tal tese tomou vulto entre
os teólogos: dizem alguns que é conveniente a existência de seres
inteligentes esparsos pelos outros sistemas solares, pois tais criaturas
prestariam homenagem ao Criador em nome do enorme número de estrelas e
planetas que são incapazes de reconhecer e glorificar o Criador.
Caso alguém admita a existência de
homens extra-terrestres (hipótese esta que só a ciência pode elucidar,
pois a fé não se pronuncia a respeito), restam abertas algumas questões
para as quais não temos resposta: esses homens terão sido chamados à
filiação divina como nós, habitantes da terra? Terão sido submetidos a
uma prova original? Haverão dito Sim ou Não ao Criador? Em caso de Não,
terão sido redimidos como nós fomos resgatados pelo sangue do Filho de
Deus? Todas estas indagações (que nos levam longe no plano das
hipóteses) ficam fora do alcance da Revelação que Deus nos fez; por
conseguinte, perderia tempo quem lhes quisesse dar resposta. Em qualquer
hipótese, porém, deveremos reconhecer que
- os hipotéticos habitantes de outros
planetas são criaturas do mesmo Deus que nos fez, pois não há senão um
Deus, soberano Senhor de tudo o que existe;
- tais homens devem ter congênita a
mesma lei natural que trazemos nós,… lei cujo preceito básico é:
“Pratica o bem, evita o mal”. Esta norma fundamental se desdobra em
outras: “Não mates”, “Não roubes”, “Respeita pai e mãe”, etc.
Todavia quanto ao tipo físico, quanto ao
grau de inteligência e cultura, e quanto à índole moral de tais
criaturas, nada em absoluto podemos afirmar de seguro. É a ciência que
toca dizer a primeira palavra a respeito, logo que tenha algum
fundamento para tanto.
3. Seres desencarnados e reencarnados?
Em parte, o interesse do público pela
temática dos discos voadores é alimentado por correntes espíritas, que
identificam os seres extra-terrestres com espíritos que, tendo vivido na
terra, se desencarnaram e foram reencarnar-se em outros mundos.
Aparecendo a nós, esses irmãos estariam procurando ajudar-nos. Como
expressão desta tese, existem, entre outros, os livros de Chico Xavier,
tidos como resultado das “revelações” de Ramatis. – Na verdade, esta
posição é arbitrária ou destituída de fundamento. A hipótese da
reencarnação carece de provas em seu favor; os casos de “regressão à
vida anterior” e os fenômenos psicológicos geralmente aduzidos em prol
da reencarnação, são suficientemente explicados pela parapsicologia como
expressões do psíquico do paciente influenciado por fatores da própria
vida terrestre. Aliás, quem lê a bibliografia “psicografada ” atribuída a
habitantes de Marte, encontra aí a expressão a imaginação criativa e,
às vezes, contraditória dos próprios médiuns.
Quanto ao Triângulo das Bermudas ou do
Diabo, os estudiosos e cientistas não vêem necessidade de recorrer ao
Além para explicar os desastres marítimos e aéreos nele ocorridos; a
inclemência do mar, dos ventos e da atmosfera, assim como aimperícia dos
navegantes são suficientes para elucidar os misteriosos casos. Apesar
disto, o público em geral se impressiona com as explicações fantasistas
que têm sido forjadas para o caso, pois, como demonstra a psicologia,
existe em todo homem o gosto do sensacional e até mesmo… do trágico. Cf.
PR 224/1978, pp. 346s.
4. Os livros de Erich von Däniken (…)
A opinião pública está motivada para
debater filmes como “Contatos Imediatos…” também por causa das obras,
muito divulgadas, de Erich von Däniken: “Eram os deuses astronautas?”,
“De volta às estrelas”, “Aparições”… Ora é de conhecimento público que
Erich von Däniken não é um cientista, mas um viajante que colecionou
dados arqueológicos e construiu sobre eles uma série de hipóteses
fantasistas; estas incluem discos voadores e comunicações com seres
extra-terrestres de alta inteligência. Todavia Erich von Däniken nem
sempre foi honesto imaginou e falsificou documentos para fundamentar
suas teses, e por isto foi processado em tribunais, tendo tido, em
conseqüência, que pagar elevadas multas. Veja-se a revista “Realidade”,
outubro 1973, pp. 92-95 e PR 210/1977, pp. 256-268.
O filme “Contatos Imediatos…” talvez
faça eco antitético à tese de E. von Däniken no seu livro “Eram os
deuses astronautas?”. Com efeito, na película os cinco sons que servem à
comunicação entre os homens da terra e os do espaço, são os mesmos da
melodia dos indianos que aparecem a certa altura do enredo… Ora os
astronautas que respondem a tais sons, evidentemente não são deuses, mas
são homens. Steven Spielberg houve por bem frisar, no seu enredo, que
os astronautas nada têm de transcendental ou místico.
5. Conclusão
Refletindo sobre o filme “Contatos
Imediatos…”, verifica-se que é rico em recursos técnicos, coloridos e
sons; o mesmo, porém, não se pode dizer no tocante à sua mensagem. Qual
seria esta ? – Cremos que poderia ser entendida como tentativa de
desmitificar o tema “habitantes de outros planetas”, mostrando que estes
nada têm de transcendental ou místico; ao contrário, são criaturas
capazes de entrar em comunicação amigável com os habitantes da terra, a
tal ponto que os homens telúricos poderão viajar e conviver com eles.
O filme em foco tem sido comparado a
“2.001. Odisséia no espaço”, que fez grande sucesso. Cremos, porém, que
esta outra película é portadora de mensagem muito mais expressiva e
importante do que a de “Contatos Imediatos (…)”. Sim: “Odisséia” (…),
propõe a Divindade presente ao homem desde os albores da história até o
momento da morte de cada um, servindo-se para tanto de um monólito
negro, que atrai e fascina o homem ao mesmo tempo que lhe impõe
reverência. Mais: “Odisséia” apresenta bem o problema da luta da máquina
contra o homem, luta na qual os robôs tentam superar o seu próprio
artífice humano.
Todavia “Contatos Imediatos (…)” vem
obtendo grande êxito, porque de algum modo, fala do desconhecido e do
misterioso. Ora todos nós fomos feitos para algo de maior do que aquilo
que vemos e conhecemos fomos feitos para o Infinito, o Absoluto ou Deus,
de tal maneira que tudo o que nos fala de mistério toca de perto a
nossa sensibilidade religiosa ou mística. Assim “Contatos imediatos (…)”
pode ser tido como mais um dos filmes contemporâneos que indiretamente
despertam o senso religioso ou místico existente em todo homem.
Artigo extraído da Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, OSB
Nº 225, Ano 1978, p. 399
D. Estevão Bettencourt, OSB
Nº 225, Ano 1978, p. 399
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