Cidade do Vaticano (RV) - Migrações e tráfico de drogas, reforma da Cúria e desafios do Sínodo sobre a Família foram os tópicos da entrevista concedida por Francisco à Televisão mexicana Televisa, publicada nesta sexta-feira, 13, segundo aniversário de Pontificado do Papa argentino. Mas o Papa também relembrou os momentos do conclave que o elegeu e sua amizade com o Cardeal Cláudio Hummes.
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Guadalupe e a visita ao México
A jornalista Valentina Alazraki foi recebida na sala da Casa Santa Marta dominada pela imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, de quem todo o continente latino-americano é devoto. “A Virgem é fonte de unidade cultural que conduz à santidade em meio a tanto pecado, tanta injustiça, tanta exploração e tanta morte”, disse o Papa, explicando a escolha deste local. A entrevista começou com a pergunta: “Por que não foi programada uma etapa no México quando fará a viagem, em setembro, aos EUA, para o Dia Mundial das Famílias?”.
“Pensava em entrar nos EUA pela fronteira mexicana, mas passar por Ciudad Juarez ou Morelia sem visitar Nossa Senhora de Guadalupe deixaria os mexicanos muito frustrados. Além disso, o México não pode ser visto com pressa, ou de passagem; seria necessária pelo menos uma semana, mas prometo que farei esta viagem como o país merece”, respondeu o Pontífice.
Problemas do México são semelhantes aos de outros países
Depois de lembrar ser filho de imigrantes e tocar no drama dos refugiados na América Central e também no Mediterrâneo, Francisco chamou os católicos à sua responsabilidade junto aos últimos e, falando do problema do narcotráfico, disse que “aonde há pobreza e miséria, o crime encontra espaço”. Lembrou os 43 jovens massacrados por traficantes na região de Morelia, meses atrás e, como sempre com franqueza, criticou a incapacidade dos religiosos de envolver os leigos, por causa de um clericalismo excessivo.
Questionado se gosta de ser Papa, ele riu e respondeu: “Me faz falta sair do Vaticano livremente, ir a uma pizzaria sem ser reconhecido...”, e lamentou que não terá muito tempo à disposição.
Mais uma vez, admitiu ter a sensação de que o seu Pontificado será breve, de poucos anos, mas deixou uma brecha aberta: “posso estar enganado”. Em relação à possibilidade de “se aposentar” como o fazem os Bispos, o Papa disse não concordar, mas ressalvou que “a decisão de Bento XVI foi corajosa”.
Um dos momentos mais informais do encontro foi o seu relato do início do conclave que o elegeu:
“Os jornalistas diziam que eu era um ‘cabo eleitoral’, que indicaria alguém; e eu fiquei em paz. Começou a primeira votação, na terça-feira à noite, a segunda foi na quarta de manhã cedo e a terceira logo antes do almoço. As votações são um fenômeno interessante. Há sempre candidatos fortes, mas muitos não sabem em quem votar. Elegem-se seis ou sete nomes, que são os “votos-depósito”, provisórios. Eu tinha recebido alguns votos... (risos) ...
Depois do almoço, algo aconteceu. Na refeição, notei alguns sinais, raros. Perguntaram como estava de saúde, estas coisas... e quanto voltamos à tarde, a partida estava decidida. Nas duas votações seguintes, tudo acabou. Para mim também foi uma surpresa. Na primeira votação, depois do almoço, quando vi que a situação era irreversível, estava ao meu lado – e quero contar porque isto é amizade – o Cardeal Hummes, que para mim é um ‘grande’. Com a sua idade, é o Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia. E lá vai ele, de barco pelos rios, visitar as igrejas... Ele estava ao meu lado e já, na metade da primeira votação da tarde, me dizia: “Não se preocupe, é obra do Espírito Santo”. Eu achava graça. Depois, na segunda votação, quando os votos somaram dois terços, veio o aplauso – como em todos os conclaves – e a conta dos votos. Aí ele me beijou e disse: “Não se esqueça dos pobres”. Isso ficou rodando na minha cabeça e foi o que me levou à escolha do nome Francisco, depois”.
(CM)
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