P - É verdade que todos os protestantes se condenam?
R - A danação é certa para todos os protestantes que chamamos protestantes formais, ou seja, para todos aqueles que sabem que eles estão fora da única e verdadeira Igreja, que é a Igreja católica; para aqueles que a combatem, que a caluniam, que buscam roubar-lhe seus filhos. Eu digo: que todos estes se condenam, porque é um dogma ou um artigo de fé que: Fora da Igreja não há salvação. Há somente a ignorância invencível que possa escusar diante de Deus.
P - O que o senhor entende por ignorância invencível?
R - Eu entendo por isto este estado da alma em virtude da qual uma pessoa vive a boa fé, assegurada de que sua religião, que se chama cristã, é a verdadeira. É assim que vemos como protestantes de boa fé todos aqueles que jamais tiveram uma dúvida, ao menos séria, sobre a falsidade de sua religião. Que, se lhes ocorreu de ter alguma dúvida, e que após o exame da questão, eles persistem em crer que o protestantismo é bom, neste caso ainda, pode-se considerá-los como de boa fé. Estas pessoas são escusáveis diante de Deus, visto que elas O servem da melhor maneira que elas conhecem, observando sua lei divina e esperando a salvação eterna pelos méritos de Jesus Cristo.
P - O senhor acredita que haja muitos protestantes que estejam nesta ignorância invencível, dito de outra forma, na boa fé?
R - Isto é conhecido só por Deus. Só Ele escruta o segredo dos corações. Mas se, em uma coisa difícil de se saber, fosse permitido fazer alguma conjectura, minha opinião seria de que há muitos destes protestantes de boa fé entre as pessoas incultas, entre os camponeses e os operários. Contudo, a ignorância invencível e a boa fé não lhe são ainda suficientes para conduzi-los à salvação. Eles devem conhecer completamente, ao menos, os principais mistérios de nossa fé: eles devem crer neles formalmente, ter a esperança, a caridade e uma verdadeira dor por seus pecados. Ora, estes pobres infelizes estão, em sua maioria,desprovidos completamente de tudo isso em suas seitas. Donde ocorre que mesmo para estes protestantes de boa fé, há uma grande dificuldade de alcançar a salvação.
P - Aqueles que passam da Igreja católica ao protestantismo podem ter esta ignorância invencível?
R - Seria absurdo pensar nisso. Como pode estar na ignorância invencível em relação à verdadeira Igreja, aquele que foi instruído e edificado em seu seio e que a abandona por pura malícia: aquele que vende sua alma por um bocado de pão, que a trafica no intuito de viver ímpio e de forma celerada?
P - Perdão: não poderia acontecer de que um católico tome a resolução de se fazer protestante em virtude de uma convicção profunda tirada da leitura da Bíblia ou de algum escrito erudito de um sábio protestante; ou mais ainda, por outro fim honesto qualquer?
R - Não; isto não é possível, quando se trata de um verdadeiro católico. Com efeito, a fé lhe ensina que Deus estabeleceu a Igreja para lhe ensinar a verdade com uma autoridade infalível, e que qualquer um que abandona a Igreja apostasia a verdade. Ora, como não pode haver verdadeira convicção contra a verdade, segue que a convicção do apóstata católico nunca pode ser nem profunda, nem mesmo superficial. Quanto à Bíblia, ela contém a palavra de Deus, ou seja, a própria verdade, e, por esta razão, ela jamais poderia conduzir ninguém contra a verdade ensinada pela Igreja. A ilusão e o erro estão totalmente do lado daquele que lê a Bíblia sem compreendê-la. Vem, em seguida, o escrito do sábio protestante. Mas jamais se pode dar o nome de sábio a um protestante, quando ele se coloca em contradição com a Igreja docente. Ele é, ao contrário,somente um ignorante ou um pretensioso, ou mesmo ainda, um e outro ao mesmo tempo. Em último lugar, é impossível que um católico se faça protestante em um intuito honesto. Pois isto seria dizer que se pode cometer um pecado enorme em um fim honesto.
P - O senhor diria, então, que não haveria nenhum católico que possa se salvar após ter se tornado protestante?
R - Eu digo que é óbvio, de uma certeza de fé, que todos os católicos que se fazem protestantes são condenados. Exceto, no entanto, no caso de um arrependimento sincero antes da morte, de um arrependimento acompanhado da abjuração dos erros protestantes. Fora deste caso, é de fé que todos os católicos que se fazem protestantes se condenam irremissivelmente por toda a eternidade.
P - Por que o senhor diz que esta danação é óbvia de uma certeza de fé?
R - Porque temos aí um ponto evidentemente revelado por Deus. Não é de fé que, para aquele que morre por sua falta fora da Igreja, não há salvação? Não pode haver dúvida sobre este ponto. Ora, estes miseráveis apóstatas morrem por sua culpa fora do seio da Igreja, portanto, é de fé que eles se condenam. Ademais, é de fé que qualquer um que morre em estado de pecado mortal se condena eternamente. Ora, estes que morrem em estado de cisma e de heresia voluntária se encontram em estado de pecado mortal, portanto, é de fé que eles se condenam.
P - Esta máxima me parece de uma intolerância cruel e completamente contrária à bondade de Deus.
R - Você se engana extremamente. Esta máxima, longe de ser uma máxima de intolerância, é uma verdade de fé perfeitamente conforme à sã razão. Deus não pode ser indiferente ao sujeito da submissão que lhe é devida. Visto que Ele mesmo ensinou aos homens a verdade religião, Ele não pode transigir com uma religião falsa, inventada ao prazer e sub-rogada pelo orgulho do homem à religião divina. Se Deus agisse de outra forma, Ele protegeria a mentira e daria suas recompensas para os inimigos revoltados contra Ele, o que repugna. Mas dizer que temos aí uma conduta cruel e contrária à bondade de Deus é uma verdadeira blasfêmia, visto que Deus revelou o contrário. Abra a Bíblia, lá você irá ler: Aquele que não crer será condenado - Aquele que não escutar a Igreja, tome-o por um pagão e um publicano - Aquele que vos escuta me escuta; aquele que vos rejeita me rejeita; e outros textos semelhantes.
P - Eu vejo que o senhor tem razão. Eu não posso, no entanto, me persuadir, eu confesso, que todos aqueles se fazem protestantes incorrem na danação eterna. Do que eles são culpáveis, de diversidade de opinião?
R - É assim que falam os descrentes e os homens sem razão para cobrir, sob belas palavras, o próprio ato de sua impiedade. Mas Deus estatuiu o contrário, como acabastes de ouvir. Ora, quem dos dois tem razão? A ilusão louca, que busca se fazer como estes ímpios para crer e viver a seu modo, sem remorsos, mudará os decretos de Deus? As corujas não suportam a luz do sol, mas o sol não resplandece apesar delas? O que eles chamam de opiniões são verdadeiras heresias, negações da fé, erros perversos contra as verdades reveladas de Deus e ensinadas pela Igreja. Portanto, não há outro meio: ou permanecer bons católicos, ou se condenar eternamente. Deus necessita destes traidores? Ele não pronunciou a condenação eterna dos idólatras e dos infiéis? Que direito os apóstatas pretendem ter para serem mais bem tratados que estes últimos?
P - Bem! Há uma grande diferença entre uns e outros. Os primeiros eram pagãos e infiéis; estes, ao contrário, são cristãos que creem em Jesus Cristo como nós, que adoram como seu Pai o mesmo Deus; eles O invocam todos os dias como os católicos, recitando a Oração Dominical. Como, pois, o senhor pode reunir em um molho os protestantes e os pagãos?
R - Sabia que os apóstatas católicos são piores que os pagãos e os próprios infiéis. Pois estes pecavam por ignorância. Esta ignorância era culpável, e é por isso que ela não pôde lhes servir de escusa; mas enfim, se os confrontamos com os cristãos, podemos dizer que os pagãos viviam na ignorância e nas trevas. Estes apóstatas católicos, ao contrário, pecam somente por malícia e por uma malícia diabólica, querendo servir sua apostasia aos fins humanos e ímpios. Eles professam ser cristãos, mas os gnósticos se afirmavam, eles também, cristãos. Eles protestam por sua fé em Jesus Cristo; mas é uma fé ao seu modo, pois eles não se dão nenhuma preocupação de saber qual é o Cristo ao qual eles afirmam crer. Eles afirmam que Deus é seu pai, e eles só tem de Deus uma ideia vaga. De resto, qualquer um que não tem a Igreja por Mãe, não saberia ter Deus por Pai. Jesus Cristo nos ordena para olhar estes homens como infiéis, e Ele, Ele os olharia como cristãos?!
P - Ainda um escrúpulo. O pecado de apostasia não é um pecado como outro?
R - Não, sem dúvida. Há uma diferença enorme entre os outros pecados, por mais graves que eles sejam, e a apostasia da fé. Os católicos que pecam, ou por fragilidade ou por malícia, agem, certamente, mal, emuito mal; eles estão, eles também, em estado de danação. Contudo, como seu coração retém a fé, ainda que ela esteja morta, ela permanece aí, não obstante, como a raiz sobre a terra. Uma vez a agitação das paixões passada, a fé começa a operar, ela gera o remorso com mais força, Deus coopera por sua graça, e a fé reverdeja, como o grão escondido durante o inverno cresce novamente na primavera. Nesta raiz da fé, ele encontra milhares de recursos para chegar à conversão, e, em particular, o uso dos sacramentos, que nos reconduzem a Deus pela via da penitência e da reconciliação. Ao contrário, tudo está perdido para aquele que renunciou à fé, ele não tem mais meios de nenhuma natureza, ele está privado do uso dos sacramentos e de todo outro sustento. Somente um milagre da graça é capaz de reconduzir o apóstata infeliz no bom caminho e na via da salvação. Ora, você sabe que os milagres são raros, e daí vem que são raros também os apóstatas que se convertem. A maior parte dentre eles morre na impenitência final e se condena eternamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Para que você possa comentar é preciso estar logado.