sábado, 22 de junho de 2013

Editorial: Convite para sermos cristãos.

Cidade do Vaticano (RV)RealAudioMP3 Esta semana no Vaticano foi uma semana vivida intensamente, principalmente pelo Papa Francisco que teve muitas audiências particulares e a audiência geral da quarta-feira, momento de festa para milhares de fiéis italianos e de outros países; na última quarta-feira, apesar do forte calor, mais de 70 mil pessoas lotaram a Praça São Pedro para ver e ouvir Francisco. Também nesta semana o Santo Padre voltou a sacudir as consciências com suas afirmações e interrogações. Duas delas ecoam ainda nos nossos ouvidos: “é um escândalo que fere toda a humanidade saber que há seres humanos que perambulam pelo mundo, arrancados – pela guerra, pela violência, pela perseguição, pela catástrofe, pela lei – da sua terra natal, do seu país, da sua família, da sua vida. O Papa se referia aos refugiados cujo dia foi comemorado pelas Nações Unidas na quinta-feira, dia 20. Outro tema foi o da fome, outro escândalo, morrer de fome em um mundo que produz o suficiente para todos os seres humanos. Desta vez o discurso do Papa foi para os participantes da 38ª Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, FAO, que se realizou nesta semana aqui em Roma.

Dois temas que se tocam e dizem respeito à dignidade do ser humano; o refugiado escapa muitas vezes de situações desumanas, onde a fome e a violência estão na ordem do dia. Então, para essas pessoas vislumbrar em outras terras um futuro melhor para si e para a família, se torna um imperativo de sobrevivência. Os refugiados entram no universo de pessoas que passam fome em nosso planeta; são cerca de 45 milhões os refugiados que perambulam pelas estradas do mundo, metade dos quais procedentes de somente cinco países: Afeganistão, Somália, Iraque, Síria e Sudão. Os famintos e desnutridos são quase 1 bilhão, ou seja um em cada 6 habitantes do planeta passa fome.

As soluções possíveis para combater a fome são muitas, e não se limitam ao aumento da produção de alimentos. O Papa Francisco, na audiência geral de quarta-feira, recordou que se sabe que a produção de alimentos é suficiente e mesmo assim existem milhões de pessoas que sofrem e morrem de fome: isto – reafirmou - constitui um verdadeiro escândalo. É necessário encontrar modos para que todos se possam beneficiar dos frutos da terra, não só para evitar que aumente o abismo entre quem tem mais e quem deve se contentar com as migalhas, mas, sobretudo por uma exigência de justiça e de equidade e de respeito por cada ser humano. Justiça e equidade que tanto pede e espera o Papa Francisco. Justiça e equidade também para aquelas famílias de refugiados, muitas vezes obrigadas a deixarem apressadamente a sua casa e a sua pátria e a perder todos os bens e segurança para evitar violências, perseguições, ou graves discriminações devido à religião professada, à pertença a um grupo étnico, às suas ideias políticas. Somam-se a tudo isso os perigos da viagem em busca de uma terra de paz e de futuro; vemos isso no Mar Mediterrâneo, que banha a Europa, África e Oriente Médio, onde pobres deserdados acabam perecendo na tentativa de cruzar o mar para chegar às terras européias. E quando chegam conhecem ainda muitas vezes a insensibilidade e a incompreensão daqueles que deveriam ajudá-los e acolhê-los.

Os temas da fome e dos refugiados caminham juntos, e nos chamam a atenção para situações de que o ser humano muitas vezes é visto somente como número, como estatística, como “descarte” de uma sociedade opulenta que vira o rosto para outro lado. O homem deve voltar a ser o centro da atenção de qualquer atitude, seja ela do governo, da sociedade, do indivíduo; as explorações e especulações, principalmente financeiras, que condicionam, por exemplo, o preço dos alimentos, tratam o homem como qualquer outra mercadoria, esquecendo o seu valor primário.

O Papa Francisco nos propõe para superar esta situação que a pessoa e a dignidade humana sejam consideradas pilares sobre os quais constituir regras e estruturas, combatendo interesses econômicos míopes, corrupção e lógicas de poder que desagregam a sociedade. Vivemos não somente uma crise financeira, mas também uma crise de convicções e de valores. Eis que brota então o convite aos homens de boa vontade para que não sejam insensíveis em relação a quem sofre, passa fome, é refugiado, porque “neles está impresso o rosto de Cristo”. Um convite a sermos verdadeiramente cristãos. (Silvonei José)

-->

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Para que você possa comentar é preciso estar logado.