Iaundê (RV) - Quem disse que para fazer bom business (bons negócios, ndr) – ou seja, que leve a lucros consistentes – é preciso seguir ao pé da letra as lógicas de mercado, evitando fazer concessões à ética? Há décadas, o Magistério Social da Igreja defende exatamente o contrário, ao tempo em que se multiplicam as empresas que demonstram que os dois aspectos podem ser felizmente conjugados.
Foi o que recordou nesta sexta-feira em Iaundê, capital da República de Camarões, o presidente do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, Cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, aos participantes do I Congresso Africano da Uniapac, conhecida no Brasil como Associação Cristã de Dirigentes de Empresas .
Levando a saudação do Papa Francisco, o purpurado ganense fez uma ampla reflexão sobre o modo como a Igreja entende o mundo dos negócios, com a expressa vontade – afirmou – de encorajá-lo e apoiá-lo "num período difícil e árduo" como o atual, e, sobretudo, a fim de que possa assumir "de modo equitativo e apropriado" – auspiciou – "as suas importantes responsabilidades em relação à sociedade".
O ponto de partida da reflexão foi a contraposição entre a "lógica do mercado" e a "lógica do dom", com a primeira inclinada para as exigências econômicas da empresa, mas julgada insuficiente para "promover o desenvolvimento das pessoas no trabalho".
A questão é bastante conhecida: a lógica do mercado busca a renda muitas vezes desfrutando as pessoas que a produzem, mas – defendeu o Cardeal Turkson – é a lógica do dom "que humaniza e civiliza as empresas", graças ao valor que as anima, ou seja, "o princípio da gratuidade".
Nesse sentido, salta aos olhos o desafio que se apresenta num macro setor como o do business: é preciso um esforço a fim de que o princípio da gratuidade e a lógica do dom encontrem "lugar na normal atividade econômica", ressaltou.
Recordem – disse o purpurado aos empresários cristãos – que o "serviço ao bem comum precede os interesses de um pequeno grupo", enquanto, vive-versa, a "divisão entre fé religiosa e atividades cotidianas pode levar a desequilíbrios e impelir ao culto do sucesso material".
Somos "chamados a agir em solidariedade com aqueles que não têm acesso à propriedade, com o grande número de pessoas que sofrem enquanto outras vivem na riqueza", insistiu.
Foram afirmações muito próximas aos ensinamentos do Papa Francisco e que o Cardeal Turkson ampliou com uma constatação:
"Esta visão do mundo dos negócios é fonte de notável tensão e não é fácil implementar no mundo de hoje", por causa das "várias barreiras externas que podem impedir a um dirigente de sociedade plasmar as estruturas a partir deste ponto de vista" – reconheceu o presidente do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz.
Barreiras que vão da "ausência de normas de leis ou de regulamentos" à "corrupção", da tendência humana à "avidez" à "má gestão dos recursos".
Em seguida, o Cardeal Turkson evidenciou que os princípios cristãos aplicados ao mundo empresarial podem ser resumidos em três objetivos.
Primeiro, "produzir uma boa propriedade", com bens e serviços de utilidade real e não indiferentes às necessidades dos pobres".
Segundo, tornar as empresas "uma boa fonte de trabalho", porque assim elas são as primeiras a "promover a especial dignidade do trabalho humano".
Terceiro, conseguir uma "boa riqueza", isto é, que seja equitativa e não desvinculada do ambiente natural e cultural em que esta é produzida. (RL)
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