quarta-feira, 25 de março de 2009

O Canto Gregoriano faz sentir a unidade da Igreja, declara Bento XVI.


Eucharistie Miséricordieuse


ROMA, 5 de março de 2007 – (E.S.M.) – “Não há dúvida de que o Canto Gregoriano”, escreveu o Papa João Paulo II no Breve “Jubilari Feliciter” de 1980, “continua a ser o liame musical que une os católicos”, e “que faz sentir a unidade da Igreja”, como declarou o Papa Bento XVI.


VATICANO – Elementos fundamentais da liturgia romana: O gregoriano, o silêncio e ... a sineta.


O Canto Gregoriano, pelo próprio fato de que ele não distrai a atenção dos fiéis, é adaptado ao espírito da liturgia romana, como os ícones o são para a liturgia bizantina. O Padre Guilmard, monge de Solesmes, escreveu recentemente que é preciso manter o sentido do texto, a forma musical, o andamento geral do desenvolvimento melódico, a forma de ornamentação, o próprio modo, o sentido musical do conjunto. E não esquecer: o grau de competência do coral, a acústica do lugar, o número de cantores e não subestimar a voz.


O Canto Gregoriano, que une o corpo e a alma foi composto por monges contemplativos, mais do que por grandes artistas: ainda assim, ele inspirou Palestrina e pode sempre inspirar a música sacra dos tempos vindouros. “Não há dúvida de que o Canto Gregoriano”, escreveu o Papa João Paulo II no Breve “Jubilari Feliciter” de 1980, “continua a ser o liame musical que une os católicos”, e “que faz sentir a unidade da Igreja”, como declarou o Papa Bento XVI.


A celebração deve conservar um equilíbrio fônico homogêneo; para isso, nos cantos e nas orações, uma voz suave é mais adaptada, ela corresponde mais à atitude de humildade e de discrição que nós devemos ter diante de Deus. É preciso, portanto, evitar com cuidado as palavras “urradas”, mas utilizar frases ditas com suavidade, que são as frases próprias da oração feita no segredo (cf. Mateus 6, 5). Nesse sentido, a liturgia monástica beneditina deve ser considerada como o tipo no qual devemos nos inspirar. É por isso, que se está voltando, a começar pelo padre que guia o Povo de Deus, principalmente nas solenidades, a cantar em Gregoriano o Ordinário da Missa – agora já conhecido em cada língua – e por que não? – partes do Próprio da Missa.


Há também o silêncio durante a liturgia, que é fundamental para escutar a Deus que fala a nosso coração. A alma não foi feita par o ruído e para as discussões, mas para o recolhimento; a prova é que o ruído perturba. Antes de tudo é preciso devolver à Igreja sua dignidade de Casa de Deus, onde ninguém fala em voz alta, a começar pelos padres e pelos ministros, que devem dar o exemplo. A igreja é o lugar onde todos se dirigem a Deus, em um silêncio humilde, e em voz baixa.


Tudo isso constitui o rito, que é um termo que significa reiteração, e do qual não se deve ter medo, porque o fiel tem necessidade dele para lembrar-se de Cristo. Os ritos ajudam os fiéis a se familiarizar com a linguagem litúrgica, graças à repetição dos gestos e dos cantos: é uma escolha de estilo constante e homogêneo para realizar nossa identidade de “orantes” (pessoas que rezam e adoram) da Majestade de Deus. Tais gestos e cantos são tão diferentes da vida quotidiana ensurdecedora, da fragmentação das linguagens e dos estilos que desviam a atenção do caráter central do mistério.


A título de exemplo, são errôneas e falaciosas as Orientações e Normas para os Acólitos e Leitores, preparadas por uma Comissão Litúrgica diocesana italiana. A respeito do momento da consagração, após haver lembrado a possibilidade de incensar o Cálice e a Hóstia consagrados, está escrito, com um zelo que tem a pretensão de estar fazendo o melhor possível: “Não se devem acrescentar nesse momento velas, sinetas, ceroferários e outros auxiliares da Missa, que não fariam mais que substituir as antigas “mesas da Comunhão”, impedindo de ver e de participar do Mistério que se celebra sobre o altar. Para a utilização da sineta, é preciso dizer que o número 150 do “Cerimonial dos Bispos” declara que é preciso levar em conta os costumes locais; mas, em nossa Igreja diocesana, não há mais esse costume”.


Além de pôr no mesmo pé as pessoas e as coisas, e da ignorância sobre a significação e a função da “clausura” (balaustradas no Ocidente e iconostase no Oriente) que, desde a época judaica e paleocristã distinguia o Santuário ou Presbitério da nave ou sala, parece, para aquele que redigiu essas notas, que o Mistério deve ser visto melhor sem essa “parte” – atualmente se utiliza a palavra “presbiteral” ou “ministerial” – e que portanto, dele se poderá participar melhor. Pobres ceroferários, pobres “mesas da Comunhão” – não falemos da iconostase, porque não é correto falar mal dos orientais – culpados, [segundo o texto], de não fazer os fiéis participarem. Em toda parte onde, com uma idiotice sem nome, elas foram suprimidas, não parece que a fé tenha aumentado. Nós salvaremos o patrimônio da fé, deixando-as precisamente em seu habitat que é a liturgia, e não as relegando aos museus diocesanos ou aos concertos nas igrejas.


Quanto à sineta, em uma decisão sem apelação, como em numerosos outros casos, uma só pessoa decide por todos que “esse costume não existe mais”. Mas, se a gente circula um pouco, ainda é possível ouvi-la porque, ao que parece, apesar de todos os esforços dos ministros, pode acontecer que os fiéis venham a se distrair e que a sineta, muito mais discreta que um apelo verbal, ajude-os a se recolherem no momento mais solene. A sineta, irmã mais nova dos sinos – com seu timbre sonoro, lembra que Deus se lembra eternamente de nós. Então, será que nós queremos mesmo abolir a sineta? Felizmente, no fim, as Indicações e Normas concluem nesses termos: “A Igreja não nos oferece liturgias intangíveis reguladas por normas rígidas”... Cada um, portanto, vire-se como puder. “Será que é esse o espírito da liturgia de que falam Romano Guardini e Joseph Ratzinger, atual Papa Bento XVI, e entre esses dois teólogos o Concílio? Se a liturgia não é o “opus dei” [“obra de Deus”], feita em louvor de sua glória, onde o “ars celebrandi” [“arte de celebrar”] encontra seu fundamento? É urgente ocupar-se da formação dos futuros padres, da educação dos fiéis e, em primeiro lugar, das “equipes de liturgia”.


AS PALAVRAS DA DOUTRINA, do Padre Nicola Bux e do Padre Salvatore Vitiello (tradução e destaques nossos).


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