quarta-feira, 23 de março de 2011

Exercício quaresmal: Meditação sobre a morte e o inferno.

Por Bruno Cruz

 
Hoje a Igreja sofre pela ausencia de pregadores que falam sobre os novíssimos, isto é um problema sério, pois o céu, o inferno ou o purgatório será o destino de todas as almas. Quero partilhar este artigo de um estudante que desconheço o nome, é um texto que nos remete a pensar no desespero eterno que será o inferno. Desde já aviso que o artigo vai levar o leitor a imaginar coisas terríveis, realidades que prefiguram o que será o inferno. Além disto o autor nos faz pensar na morte, é um texto muito rico em espiritualidade.
Que o texto seja para você um material de reflexão, oração e conversão.


O artigo :

Na Universidade de Direito, estudando sobre Medicina Legal, acabei encontrando na Biblioteca o livro “Preparação para a Morte” de Santo Afonso de Ligório. A leitura do livro me causou muito interesse, pois eu estava fazendo um trabalho sobre tanatologia (estágios de decomposição do cadáver). O livro sacode a alma mais tíbia e despreocupada.
Pulvis es et in pulverem reverteris.


És pó e em pó te hás de tornar (Gn 3,19)


Nada melhor para fazer bem a alma do que lembrar os novíssimos do homem. Lê-se muito nos livros de piedade que as pessoas que vão para o inferno sentem sofrimentos segundo os seus pecados. Ferros em brasa atravessando a língua do blasfemador e do mentiroso, animais que mordem continuamente as partes do corpo que serviram para o pecado, sapos que grudam nos olhos dos que tiveram maus olhares, etc.

Tudo isso é terrível. Como seria isso na realidade? Como seria o inferno? Nada melhor do que a Tanatologia para meditar no Inferno, nada melhor do que ler Santo Afonso de Ligório.
Considera que és pó e que em pó te hás de converter. Virá o dia em que será preciso morrer e apodrecer num fosso, onde ficarás coberto de vermes. A todos, nobres e plebeus, príncipes ou vassalos, estará reservada a mesma sorte. Logo que a alma, com o último suspiro, sair do corpo, passará à eternidade, e o corpo se reduzirá a pó.


Imagina que estás em presença de uma pessoa que acaba de expirar. Contempla aquele cadáver, estendido ainda em seu leito mortuário: a cabeça inclinada sobre o peito; o cabelo em desalinho e banhado ainda em suores da morte, os olhos encovados, as faces descarnadas, o rosto acinzentado, os lábios e a língua cor de chumbo; hirto e pesado o corpo. Treme e empalidece quem o vê. Quantas pessoas, à vista de um parente ou amigo morto, mudaram de vida e abandonaram o mundo.
É ainda mais horrível o aspecto do cadáver quando começa a corromper-se. Nem um dia se passou após o falecimento daquele jovem, e já se percebe o mau cheiro. É preciso abrir as janelas e queimar incenso; é mister que prontamente levem o defunto à igreja, ou ao cemitério, e o entreguem à terra para que não infeccione toda a casa. Mesmo que aquele corpo tenha pertencido a um nobre ou potentado, não servirá senão para que exale ainda fetidez mais insuportável, — disse um autor.
Vês o estado a que chegou aquele soberbo, aquele dissoluto! Ainda há pouco, via-se acolhido e cortejado pela sociedade; agora tornou-se o horror e o espanto de quem o contempla. Os parentes apressam-se a afastá-lo de casa e pagam aos coveiros para que o encerrem em um esquife e lhe dêem sepultura. Há bem poucos instantes ainda se apregoava a fama, o talento, a finura, a polidez e a graça desse homem; mas apenas está morto, nem sua lembrança se conserva. (Santo Afonso de Ligório – “Preparação para a morte”)

Voltemos para a ciência, para os estudos, para a Tanatologia... e meditemos:
O corpo morto enrijece aos poucos. Todos os amigos e parentes choram e rezam ao redor do finado que está bem ajeitado na urna funerária e rodeado de flores. Fecha-se o caixão. Tudo terminou – diriam.

Errado. Aí é que tudo começa.

Depois de 24 horas, o corpo que estava totalmente rígido, começa a amolecer novamente na mesma ordem que enrijeceu. As unhas e o cabelo ainda crescem. As células nervosas do cérebro ainda lampejam alguma fagulha, de vez em quando. Imagine se, para nosso próprio castigo, Deus permitisse que a alma sentisse o próprio corpo sendo corrompido. Ou seria pior se nosso corpo pudesse na imobilidade e no silêncio, sentir a própria corrupção? Você consegue imaginar isso? Vamos adiante então. Imaginemos que Deus permitisse isso.
Quem é que nunca esperou 15 minutos ou meia hora e achou que estava esperando muito? Um dia, uma semana, um ano, fechado na sua tumba é como uma eternidade... sem fim...
Quem é que nunca sentiu, ao adormecer, uma mosca pousando na ponta do nariz. A reação é imediata: abana-se a mão para espanta-la.
No caixão, você não pode se mexer. Não pode gritar. Mas milhares de insetos e vermes se arrastando sobre você, entrando e saindo por todos os orifícios do seu corpo, e você não pode fazer absolutamente nada, mas tudo sente... Imaginemos isso... E isso com a sensação de ficar lá por toda a eternidade, pois o tempo não passa, o tormento parece eterno. Vermes de todos os tipos e tamanhos... os mais asquerosos.
Alguém já sentiu frio e não tinha agasalho?
No caixão o frio é mortal. Na hora da morte o frio vem de dentro para fora. E você, não pode nem se arrepiar, não pode se abraçar e nem se encolher...
Gosta de perfumes? Detesta mal cheiro?
O pior odor que existe neste mundo é o do cadáver em decomposição. Esse odor CHAMA-SE CADAVERINA. É tão forte, tão insuportável, que cientistas já pensaram até em utiliza-lo como elemento de bomba química. Não há odor pior que se tenha conhecimento. Você não pode respirar, mas no entanto sente na escuridão o fim de toda a vaidade.
Depois de destruídos nossas entranhas, não há mais orifícios para expelir os gases da putrefação. Os vermes transformaram nosso interior numa pasta podre. Essa massa continua formando gás... o gás da putrefação. O corpo incha e se deforma. Por onde então serão expelidos esses gases? Como um castigo para os que tiveram maus olhares, as pálpebras se abrem e os olhos ficam esbugalhados, opacos, mas como que Deus obrigasse a você ver o horror de seus próprios pecados, e você não pode fechar seus olhos. Então a língua começa a ser expelida até quanto pode ser. E nesse aspecto horrível os insetos e vermes que mordem sua língua lembram o quanto você pecou pelas palavras proferidas. O abdômen incha, criam-se pústulas... e explodem, o corpo se abre e derrama o líquido fedorento... Os olhos que ainda não foram devorados, mas estão opacos, de forma confusa tudo vêem.

Já imaginou sentir tudo isso?
E pense que isso não é nem o começo do inferno...

“Descanse em paz”


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