sábado, 1 de outubro de 2011

Sobre o "Movimento Salvai Almas".

Pe. Marcélo Tenorio


Chegou-me ao conhecimento um chamado “movimento Salvai Almas” que, aparentemente católico, parece ser uma associação de fiéis devotos das santas almas do purgatório. Li vários livros deste “movimento” – como eles gostam de se chamar – inclusive estive em contato direto com um dos membros, o mesmo que me emprestou os citados livros.

Interessante é que este senhor começou a fazer direção espiritual comigo. Falando-me sobre o movimento, pedi-lhe livros. Li, analisei e vi, de súbito, todas essas heresias denunciadas aqui neste artigo. Como sacerdote exortei-o a abandonar essas "revelações", visto que estão contra o Magistério Infalível da Igreja, e, claro, não poderia eu dirigir alguém que aderisse formalmente à heresia.

Tomei ciência de que este senhor atacou-me em testemunho pessoal postado na net, como podem ler abaixo. Isso só comprova a desobediência ao clero e à Igreja, o ódio por todos que se opoem a estas fantasias. São comuns os ataques do "vidente" Cláudio aos sacerdotes, seus seguidores não poderiam ser diferentes. Leiamos estas pérolas que comprovam o sectarismo latente deste "movimento":

"... procurei divulgar a um sacerdote piedoso que se propôs a ser meu diretor espiritual, porém descobri uma falsa humildade em sua batina preta, pois me chamou atenção dizendo que os livros eram hereges e que estava em pecado, me pressionou na parede dizendo que só continuaria sendo meu diretor espiritual se eu admitisse não acreditar nas mensagens do grupo Salvai Almas, eu afirmei com todas as letas que eu acreditava pois a nossa Senhora esta na frente desta obra, pois o padre deixou transparecer a sua insatisfação em aceitar leigos na frente de obras, descartando totalmente a possiblidade da mensagens de Nossa Senhora serem verdadeiras..."

"... porém o não do padre foi o meu sim definitivos para o Grupo Salvai Almas, me apresentei ao grupo de caminhantes dos cemitérios de Campo Grande e passei a visitar diariamente um todos os dias..." (Cf: http://www.recadosaarao.com.br/index.asp?id_artigo=4162).


Uma pena! Tão humilde este senhor, que preferiu seguir as fábulas, caminhar pelos cemitérios, ouvindo os mortos...

O padre orgulhoso aqui, prefere escutar e seguir a Igreja!

Tudo se baseia em pretensas revelações particulares de Nosso Senhor, Nossa Senhora, São Miguel Arcanjo e outros santos a um casal com pseudônimos de “José de Nazaré” e “Maria Angelina”. Segundo o relato, ambos são simples, humildes e moram numa casinha de madeira de pinus. Coloca-se que possuem um diretor espiritual, um sacerdote, entretanto, este mesmo sacerdote não tem nenhuma autoridade sobre eles, o que é estranho, pois em toda história da Igreja todos os santos e místicos se colocaram em obediência absoluta ao Diretor Espiritual, visto que o demônio engana e pode colocar nas almas pretensões de santidade.

Vejamos o relato do livro “Fundamentos da Salvação”, sobre o assunto. A separação numérica é nossa.

1. Rejeição à legítima interferência da Igreja pelo estudo e análise.

“Eles têm acompanhamento espiritual de sacerdote, mas Nossa Senhora...

(1) ... não pede que ele “avalize” este livro, para...

(2) ...evitar que ele seja mais “perseguido” do que já é, em vista...

(3) ... do magistério que exerce.

Em mensagem a José, datada de 02/10/98 JESUS diz claramente...

(4) ... que exime os sacerdotes em questão, de avalizar esta obra, porque a Igreja não encontraria formas de a justificar, mas que a próxima terá que ser analisada e avalizada por eles. Para sermos justos, eles até que se estavam...

(5) ... dispondo a prefaciar esta obra, fazendo algumas modificações. Mas Jesus e Maria, em mensagens individuais e claras dizem a ambos:

(6) O livro fica como está!

Ordem cumprida, este livro fica pois,

(7) ... apenas a cargo dos leigos. E que o Senhor nos ajude!”

Analisemos por partes.

(1, 2, 3) A autora do livro é a própria “Virgem Maria” que não aceita que este livro seja analisado pelo clero para que ele, o livro, não venha a ser perseguido.

Que estranho e contraditório. Não é essa a doutrina que Nosso Senhor deixou sobre a sua Igreja, fundada sobre os apóstolos, com a missão de Ensinar. Ainda sobre ela, diz o divino mestre: “quem vos ouve, a mim ouve (Lc 10,16).

Aqui, está uma suposta Maria, que certamente não é Nossa Senhora, pois a Mãe de Deus é doutora em teologia e doutrina católica e esta aqui parece protestante e anti-clerical, visto que, sobre um assunto que deve ser analisado pela autoridade da Igreja, esta Maria simplesmente rejeita e não aceita a análise do clero, temendo que o livro seja perseguido. Mas que “Maria” medrosa! Está com medo de que, Maria?! Parece aquela outra Maria, da nossa literatura brasileira...

(4). Esta “Maria” “exime” os sacerdotes deste trabalho, porque a Igreja não encontraria “formas de justificar”.

“Xiii!!!” Aqui o “caldo entornou”, como diria o mineiro. É grave, gravíssimo, e de certa forma importante esta colocação da “Maria perigosa”. Grave, porque é uma colocação absurda, visto que a Santa Igreja é Mãe e Mestra da Verdade e recebeu a Verdade plena de seu divino fundador, de forma que, com a morte do último apóstolo, encerrou-se toda revelação. Nada existe mais para nos ser revelado sobre a sagrada doutrina, pois “vos ensinei tudo que ouvi de meu Pai” (Jo 15, 15). Dizer que a Igreja não tem condições de emitir um juízo em matéria de fé, porque há algo que ela não sabe, desconhece, é heresia grosseira.

Esta heresia grosseira é o dado importante para percebermos aqui a incompatibilidade com a sagrada doutrina, desmascarando sua pretensa origem divina. Como Deus não pode errar nem se contradizer, logo, podemos afirmar categoricamente: são falsas tais revelações. Não são católicas tais revelações! Não são da Virgem Maria, Mãe de Deus tais revelações!

No final da citação, “Jesus e Maria”, chancelam dizendo que os padres não devem mexer no livro: “fica como está, apenas a cargo dos leigos”.

Nossa Senhora, depois de tantos séculos intervindo no mundo, teria resolvido tornar-se revolucionária? Ela que sempre ordenava que os videntes procurassem o padre, o bispo e a eles se submetessem, aqui resolve fazer diferente, porque há coisas que ela revelou que nem a Igreja sabe! Absurdo!

Isso nos faz lembrar São Paulo que nos diz:

“Mesmo que um anjo do céu vos ensine algo diferente do nosso ensino, seja excomungado!” (Gl 1, 8-9)


2. Rejeição ao ensino por parte do clero

Ora, percebemos algo estranhíssimo, não só contra a prática comum da Igreja, mas sobretudo no que se refere a autoridade do sacerdote que está dentro do tríplice múnus que Nosso Senhor conferiu à Igreja: Santificar, Ensinar e Governar. O Padre age na própria pessoa de Cristo e, é sua função, guiar as almas para Deus. Na direção espiritual caberá ao sacerdote conduzir o dirigido por caminhos seguros, na reta doutrina, e numa equilibrada prática da fé e da espiritualidade. De forma que, Cristo sempre fala através do diretor espiritual, cabendo-lhe ao dirigido a pronta obediência. Em apenas um caso deve a alma desobedecer ao seu diretor: quando ele o induzir contra a Fé e a Moral. Fora disso, deve-lhe acatamento.

Se lermos a vida de Santa Teresa d´Avila, encontraremos várias exortações sobre a necessidade de se ter um diretor espiritual. Sem ele a alma estará certamente exposta às mentiras e enganos do diabo.

São Pio de Pietrelcina nada fazia sem que tivesse o aval de seu diretor espiritual. E se era um santo cheio de carismas e portentosos milagres, tudo, tudo mesmo, ele submetia ao seu pai espiritual e nada fazia sem ele. Deixava sempre o discernimento, a última palavra, ao mestre de sua alma, como pode-se facilmente ver no livro que contém suas cartas ao seu Diretor.

Como dizia o Cônego Ogier: “Aquele que se constitui seu próprio Mestre, torna-se discípulo de um louco”.

Cassiano, S. Francisco de Sales e Leão XIII, reforçam a doutrina perene da Igreja sobre a necessária direção espiritual, vejamos:

“Encontramos nas próprias origens da Igreja uma célebre manifestação desta lei: posto que Saulo, respirando ameaças e matança, tivesse ouvido a voz do mesmo Cristo, e lhe houvesse perguntado: ‘Senhor que queres que eu faça?’ – É para damasco, a Ananias que é enviado... Isto mesmo é o que se tem praticado na Igreja: é a doutrina que unanimemente professaram todos quantos no decorrer dos séculos, brilharam pela ciência e santidade” ( Leão XIII).

Fala o grande doutor da mística católica, São João da Cruz, sobre a vontade de Deus em relação ao Diretor Espiritual:

“Deus gosta tanto que o homem se submeta à direção de outro homem que não quer de maneira alguma ver-nos dar pleno crédito às verdades sobrenaturais que Ele próprio comunica, antes de elas terem passado pelo canal duma boca humana”.

O livro em questão começa já atestando que a autoria é de “Nossa Senhora” e lógico, ela sendo a autora, também cabe-lhe a dedicação de sua obra. Ela oferece também sua dedicatória, vejamos:


“DEDICATÓRIA DE NOSSA SENHORA

A Américo Odorizzi e excelentíssima família, pelo desvelo e amor com que têm colocado sua Editora a serviço desta obra de Deus. Que Deus os abençoe e a seus funcionários.”


Em seguida vem as ameaças a todos aqueles que não acreditarem no que está escrito no livro:

“Quero alertá-los do fato de que: “Cada livro vale a libertação de 100 almas do purgatório.” Portanto, cada livro retido, impede a libertação destas 100 almas. Ai dos que impedem! Terão o peso de 100 por 1. Arcarão com as responsabilidades! Reza por eles! Esta obra também foi feita para eles! Amém! Eu vos abençôo a todos, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo Amém! Maria Mãe do Universo!”



3. Esta pretensa “revelação” é apresentada como obrigatória para todos, quase como uma Revelação Pública.

Vejamos: essa “Maria”, não só escreve livros, mas também muda, sem comunicar ao Papa, a doutrina da Igreja em relação às revelações particulares.

Sabemos que nenhum fiel católico está obrigado a dar acatamento de fé às chamadas revelações privadas, mesmo aquelas, de certa forma, reconhecidas pela Igreja, como as aparições da Virgem em Lourdes, Fátima, Guadalup, visto que nada acrescentam ao depósito da Fé.

Ninguém comete pecado se não acreditar em Fátima, nas aparições de Nossa Senhora à Santa Catarina, etc., porque tudo o que era necessário à nossa salvação já nos foi revelado por Nosso Senhor e nos é ensinado pela suprema autoridade do Magistério da Igreja e é o que chamamos de Revelação Pública, a qual todos estão obrigados a crer. Vale salientar que em nenhuma aparição autêntica de Nossa Senhora houve o ensino de uma nova doutrina, de uma nova verdade, visto que TUDO já nos foi transmitido.

Qualquer pretensa aparição que venha com uma nova mensagem, com algo novo, não provêm do Espírito Santo, mas do pai e mestre da mentira, o diabo, para sufocar a verdade e enganar os fracos.

O que ensina a Igreja sobre as revelações particulares:

Bento XIV: “Apesar de uma adesão de fé católica não pode e não pode ser dado a revelações assim aprovadas, ainda, uma adesão de fé humana, feita de acordo às regras de prudência lhes é devido, pois, de acordo com estas regras tais revelações são prováveis ​​e dignas de crédito piedoso”.

Catecismo da Igreja Católica: Cristo, o Filho de Deus feito homem, é do Pai, a Palavra perfeita e insuperável em que ele disse tudo; Não haverá outra palavra do que este A economia cristã portanto, uma vez que é a nova e definitiva aliança, jamais passará, e nenhuma nova revelação pública é de se esperar, antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo como João da Cruz diz: "Qualquer pessoa que pretenda consultar a Deus ou alguma visão ou revelação seria culpado não só de comportamento tolo, mas também de ofendê-lo, por não pôr os olhos totalmente em Cristo e vivendo com o desejo por alguma outra novidade” (65-66).


4. Fuga de um discurso racional da Fé: desprovida de análise teológica e filosófica.

O livro em questão faz um discurso, em nome de Nossa Senhora, contra o que se chama de racionalização.

Vejamos:

“ASSUNTO DO LIVRO

O tema que abordaremos neste livro, pode-se dizer que é de teor bastante “obscuro”, dentro da Igreja Católica, Apostólica, Romana, Una e Santa, por se tratar de assunto pouco estudado e com poucas referências na Bíblia: A SANTA IGREJA PADECENTE - O PURGATÓRIO

Obscuro dizemos e achamos nós, que racionalizando sempre e tudo, muito pouco ou quase nada entendemos sobre a Divina Misericórdia, sobre a Justiça de Deus e sobre como funciona o elaborado e milimétrico processo de salvação das nossas almas.

Por isso, ANTES de questionar, deixemos que Nossa Senhora esclareça:

(...)

Muitas indagações haverão! Muita polêmica, por tratar-se de assunto obscuro para a Igreja! Eu, porém, não vejo nenhuma obscuridade nisto...” (os grifos são nossos).



5. Desconhecimento pleno da Doutrina sobre a Igreja

Aqui tudo volta. Há algo tão obscuro, mas tão obscuro que nem a Igreja saberia, apenas Nossa Senhora! Eis mais um erro grosseiro e, desta vez, em relação à eclesiologia. A Igreja é colocada como associação de fiéis, mas não como mistérica, vinda do coração da Trindade e tendo a sua consumação na glória.

Nossa Senhora, por mais excelsa e sublime que seja, é sempre filha da Igreja no sentido de que esta, como nos ensina Sto. Agostinho, é maior que a Virgem Maria. Ora, dizer que a Igreja nada sabe e a Virgem sabe de coisas que a Igreja desconhece, é, na verdade, nada entender sobre a doutrina católica romana, logo, fica mais que comprovado que não há possibilidade de que seja divina esta pretensa revelação, pois ela não suportaria um mínimo confronto com o Catecismo Romano.

É elementar para a eclesiologia a origem divina da Igreja por sua cabeça, o Verbo encarnado, e além de sua fonte de salvação para todos os homens, nela está toda a Verdade sobre Deus, sobre o mundo e sobre o homem. Verdade esta revelada e confiada à sua hierarquia para que seja ensinada a todos os homens: “Ide e ensinai”. Só ensina quem sabe. A Igreja possui a verdade plena, por isso o papa João XXIII pode proclamá-la “Mater et Magistra” da Verdade.

Mas percebamos que, para fugir desta enrascada, o próprio livro condena a atitude de se buscar a explicação racional, convocando todos a darem, sem questionamentos, adesão de fé a tudo isso. Ou seja: deve-se crer, sem duvidar, que verdadeiramente é Nossa Senhora e o céu que estão conduzindo tudo isso.

Ora, ora! Quanto mais essa “Maria” escreve, pior fica. A fé não é um sentimento, um “achismo”, nada disso. Isso não é católico. É subjetivismo, filho do modernismo, além de conter uma boa pitada de neo-liberalismo religioso que é, justamente, a fuga da submissão à legítima autoridade da Igreja.

Ensina Santo Tomás de Aquino que a Fé é a adesão da inteligência à Verdade e, claro, esta Verdade ensinada infalivelmente pela a Igreja.

Num belo documento que tratava da Fé mais a Razão, o Santo Padre João Paulo II colocava:

“6. Credenciada pelo facto de ser depositária da revelação de Jesus Cristo, a Igreja deseja reafirmar a necessidade da reflexão sobre a verdade...

“17. Não há motivo para existir concorrência entre a razão e a fé: uma implica a outra, e cada qual tem o seu espaço próprio de realização. Aponta nesta direcção o livro dos Provérbios, quando exclama: « A glória de Deus é encobrir as coisas, e a glória dos reis é investigá-las » (25, 2). Deus e o homem estão colocados, em seu respectivo mundo, numa relação única. Em Deus reside a origem de tudo, n'Ele se encerra a plenitude do mistério, e isto constitui a sua glória; ao homem, pelo contrário, compete o dever de investigar a verdade com a razão, e nisto está a sua nobreza...

“Indo mais longe, S. Tomás reconhece que a natureza, objecto próprio da filosofia, pode contribuir para a compreensão da revelação divina. Deste modo, a fé não teme a razão, mas solicita-a e confia nela. Como a graça supõe a natureza e leva-a à perfeição, assim também a fé supõe e aperfeiçoa a razão. Esta, iluminada pela fé, fica liberta das fraquezas e limitações causadas pela desobediência do pecado, e recebe a força necessária para elevar-se até ao conhecimento do mistério de Deus Uno e Trino. Embora sublinhando o carácter sobrenatural da fé, o Doutor Angélico não esqueceu o valor da racionabilidade da mesma; antes, conseguiu penetrar profundamente e especificar o sentido de tal racionabilidade. Efectivamente, a fé é de algum modo « exercitação do pensamento »; a razão do homem não é anulada nem humilhada, quando presta assentimento aos conteúdos de fé; é que estes são alcançados por decisão livre e consciente” (Cf. Carta Encíclica Fides et Ratio, João Paulo II).

Encontra-se também nestas “revelações” o ensinamento dado por “Maria”, sobre o chamado “grande purgatório”. O que seria isso?

Bem, essa Maria explica de forma inusitada que nem Santo Tomás de Aquino, o doutor angélico, conseguiu formular em sua Suma Teológica.

Vejamos:

“Não é, também, que Deus tenha mudado Sua santa justiça, ou “abrandado” a Sua santa lei. O problema, é que se tornaram tantas as ocasiões de pecado para o homem de hoje, que é quase impossível para uma pessoa qualquer, mesmo vivendo santamente, passar alguns minutos sem pecar. E são bilhões de pecados que se cometem por dia no mundo...”

Então, Nosso Senhor o que faz? Muda as regras. Cria o grande purgatório para dar uma segunda chance àqueles que morrem em pecado mortal!

Vejamos esta esdrúxula explicação:

“O Grande Purgatório é, na verdade, um quase inferno. A única diferença é que, mesmo ali, a alma sabe que, um dia, perto ou longe, ela irá para os braços do Pai Eterno.

Quanto tempo se fica ali? Um segundo ou por milênios seguidos. Tudo depende do estado da alma. Um exemplo de que uma pessoa pode ficar tantos anos no Purgatório foi-nos dado em Fátima na 2ª das aparições, onde, ao ser questionada pela Jacinta uma das videntes, a respeito de uma senhora X, falecida há já 4 anos, portanto em 1913, Nossa Senhora respondeu que ela estava no Purgatório e “vai ficar lá até o final dos tempos”...

Sabe-se hoje que milhões de pessoas no mundo, conhecedores desta revelação, já rezaram exaustivamente por esta alma, entretanto, ela pode estar lá, ainda hoje sofrendo. Porque as orações não a alcançam.

Neste local, a alma “estaciona” e dali não sai, até ter pago integralmente a sua pena, porque as graças não a conseguem alcançar. Eis aí o Grande Purgatório...

Bem sabemos a imensidade de pecados mortais que se cometem hoje no mundo e sabemos que milhares de pessoas, morrem hoje em toda a terra, sem receber os sacramentos e sem poderem se preparar para outra vida. Assim, nosso entendimento leva a imaginar que todas estas pessoas morrem eternamente. Ora, isso seria uma imensa vitória do louco satanás...

Assim, o que o Arcanjo São Miguel tem revelado a José de Nazaré e Maria Angelina, é que existe este imenso “vácuo”, onde se manifesta a Eterna Misericórdia deste nosso Deus de Amor. Existe sim um local, onde as almas dos que morrem, mesmo com alguns pecados ditos por nós “mortais”, podem encontrar AINDA a salvação: O Grande Purgatório. Um local (ou estado de alma) imenso e impressionante. E ao mesmo tempo terrível. Ele se encontra exatamente as “portas do inferno” e nele, “malham” as almas que “quase”, caíram no abismo negro do sem Deus. Porque o espaço entre o Inferno e o Grande Purgatório é de apenas “milímetros”.

Enquanto ali permanecem, as almas não recebem as graças das orações, nem de militantes nem dos glorificados. Quer dizer, para elas não adianta rezar, nem mesmo mandar rezar as poderosíssimas santas Missas, enquanto eles permanecerem naquele abismo.”



Aí está uma doutrina estranha à Fé Católica sobre o que se chama aqui de “Grande Purgatório”, onde ficam as almas que morreram em pecado mortal. Local onde as orações nem chegam. Até mesmo o augusto sacrifício da Missa torna-se ineficaz.

Que absurdo! Que disparate! Que heresia! E o pior: pretensamente atribuídas à Santíssima Virgem Maria e a São Miguel Arcanjo.

O que acabamos de ler não é doutrina católica, mais um verdadeiro delírio, que pode enganar as mentes fracas.

Vejamos o que a Santa Igreja nos ensina sobre a realidade do purgatório:

“Há também um fogo de expiação, no qual por certo tempo, se purificam as almas dos justos, até que lhes sejam franqueado o acesso da Pátria Celestial, lugar onde nada de impuro pode entrar” (Cf. Catecismo Romano, V, artigo 1-3).

Fala o Dogmático Concílio de Trento, em sua seção XXV, no decreto sobre o Purgatório:

“983. Já que a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, apoiada nas Sagradas Letras e na antiga Tradição dos Padres, ensinou nos sagrados Concílios e recentemente também neste Concílio Ecumênico, que existe purgatório [cfr. n° 840], e que as almas que nele estão detidas são aliviadas pelos sufrágios dos fiéis, principalmente pelo sacrifício do altar [cfr. n° 940, 950], igualmente não seja permitido divulgar ou discorrer sobre assuntos duvidosos ou que trazem a aparência do falso. Sejam ainda proibidas como escandalosas e prejudiciais aos fiéis aquelas coisas que têm em vista provocar a curiosidade ou que reascendem a superstição”.

“Por ali se deve defender a doutrina da lei divina que exclui do reino de Deus não só os infiéis, mas também os fiéis fornicadores, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, beberrões, maldizentes, gatunos (1 Cor 6, 9s) e todos os que cometem pecados mortais, dos quais se podem abster com o auxílio da graça divina, e pelos quais se separam da graça de Cristo [cân. 27].

835. Cân. 25. Se alguém disser que o justo peca em qualquer obra boa, ao menos venialmente, ou (o que é mais intolerável ainda) mortalmente; e que por isso merece penas eternas, não se condenando [porém] somente porque Deus não imputa aquelas boas obras para a condenação — seja excomungado [cfr. n° 804].

Em suma:

1. A Igreja ensina a existência do purgatório, que é um estágio de purificação para as almas que morreram na amizade de Deus, ou seja, em pecado venial e, que, por isso, precisam de uma purificação, antes de entrarem no gozo da visão beatífica. De forma que costumamos chamá-las de “santas almas”, visto que a sua salvação é garantida, logo após a etapa purificatória.

2. Os que morrem em pecado mortal, morrem excluídos da Graça de Deus, recebendo assim a condenação eterna no inferno.

3. As orações, penitências, mortificações que os fiéis oferecem pelas santas almas, lhes são de grande alívio e, até podem contribuir para uma imediata saída do purgatório.

4. Não existe maior oração de grande eficácia para as almas do que o Santo Sacrifício da Missa. Atesta a sagrada doutrina, como também o testemunho dos santos místicos. Muitas almas são libertadas quando se celebra os sagrados mistérios.

Portanto não são católicas estas afirmações contidas neste livro de que:

1. Por causa do aumento de pessoas que morrem em pecado mortal, Deus teria criado o chamado “Grande Purgatório”, com possibilidade de salvação, após longo período de sofrimento.

2. Que nesse grande purgatório são sem valor a comunhão dos santos e as orações, sacrifícios, mortificações, que nenhuma oração pode lá chegar.

3. Que mesmo o Santo Sacrifício da Missa é ineficaz para as almas do grande purgatório.

Inexiste na Fé Católica essa estranha doutrina do grande purgatório e, tudo o que foi dito acima, jamais poderia ter sido dito por Nossa Senhora e São Miguel Arcanjo porque constituem verdadeiras heresias e, como tais, condenadas pelo Concílio de Trento.

Quem as divulga, quem as defende, incorre em pecado grave e em pena de Excomunhão, como podemos ver claramente no Cân. 25, da Justificação, do sagrado concílio.

Concluindo, exortamos a todos que mantenham distância deste movimento, sobretudo de seus escritos cheios de erros contra a Fé.

O demônio, sendo o pai da mentira, sabe dissimular um mal com roupagem de bem. A mentira sempre é tentativa de maquiar a Verdade, por isso uma boa mentira sempre, à primeira vista, parece-nos verdadeira em sua máscara. Todavia, basta aprofundá-la e submetê-la a crivos irrefutáveis que tudo desmorona e aparece, enfim, o seu verdadeiro rosto.

Dou a todos um antídoto contra essas novidades: submetam tudo ao Magistério da Igreja, visto que a Igreja não pode errar, porque Cristo não erra.

Lembremo-nos, novamente do conselho paulino:

“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja excomungado!”(Gl 1, 8-9)

Mas alguns poderão objetar:

“Ah! Mas isso mudou a minha vida. Era ruim, agora sou bom, etc!”
“Ah, tem padres que acreditam, tem bispos que apóiam...”
“Eu sinto que é verdadeiro, porque me faz bem crer...”


Tudo isso são balelas. Lutero era padre. Judas, bispo. Um padre, um bispo e até mesmo um papa, estão a serviço da Fé imutável da Igreja, nada podendo subtrair ou acrescentar.

Fujamos destas novidades que põem em risco a nossa fé. Fiquemos com as palavras sábias de Pio XI:

“A todos quanto agora sentem sede da Verdade, dizemo-lhes: ide a Tomás de Aquino.”

Neste livro “Fundamentos da Salvação”, existem outras coisas curiosamente perigosas, tal como a “Ponte da Salvação”, óleos sagrados, freqüentes mensagens e comunicações com mortos que precisariam ser melhor analisadas pelo magistério, mas fiquemos por aqui. É como um afeito dominó. Desmascarado suas falácias, todo o resto cede.

É verdade que cabe aos bispos diocesanos, como doutores que são, e, em última instância à Santa Sé Apostólica, uma formal análise e condenação desses escritos. No entanto, não exime de nós padres o grave dever de orientar os fiéis sobre tais erros e heresias. Se vejo um ladrão roubando alguém, posso, tranquilamente gritar “pega ladrão!”, mesmo antes da autoridade competente declará-lo de fato um ladrão. O óbvio não se julga, se constata.

De fato, o que vimos acima é tão verdadeiro quanto “santa-do-mel” ou quanto uma nota de duzentos centavos novos.

“Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas. Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.” (2 Tm 4.1-5 )


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