sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Cardeal italiano Dionigi Tettamanzi defende uma "renovação" das grandes instituições econômicas.

O cardeal italiano Dionigi Tettamanzi defendeu uma “renovação total” das “grandes instituições econômicas” diante da atual crise mundial, afirmando que “talvez a globalização em curso seja um processo negativo”.

“A perceção do homem de hoje é a de se encontrar à mercê de um movimento imparável, que traz consigo insegurança, precariedade, instabilidade, em todas os setores da vida”, alertou, no 27.º Encontro da Pastoral Social, da Igreja Católica, subordinado ao tema «Desenvolvimento local, caridade global».

O arcebispo emérito de Milão diz que o momento atual “exige uma renovação total, que revolucione o comportamento de todos”, admitindo a necessidade de “voltar a formas de economia menos avançadas, mais circunscritas”.

“A globalização deve ser assumida como uma solidariedade verdadeira”, disse, durante o debate que se seguiu à conferência, acrescentando que “os direitos dos fracos não são fracos direitos”.

Este responsável falou do trabalho realizado pela diocese italiano, desde o Natal de 2008, diante da “grave crise económica e financeira”, que passou pela instituição do “Fundo Família Trabalho”, não só como “gesto concreto de ajuda aos núcleos familiares em situação de necessidade pela crise, mas ainda mais como sinal, como impulso para compreender que, face a situações como estas, é preciso repensar radicalmente as próprias escolhas de vida”.

Até agora, revelou, “foram recolhidos mais de 12 milhões e meio de euros com os quais foram ajudadas mais de 6300 famílias", conseguidos com a mobilização da “rede Caritas”, dos próprios trabalhadores e da generosidade das “pessoas pobres”, numa diocese com 12 milhões de habitantes.

“Espero também que as pessoas que têm responsabilidades institucionais e de importância na sociedade e na economia – administradores públicos, empresários, gestores – continuem a procurar insistentemente modos de aumentar a oferta de emprego”, acrescentou.

Para D. Dionigi Tettamanzi, a crise “atingiu gravemente os mais fracos, ou seja, os menos responsáveis por esta situação, os menos capazes de voltarem a levantar-se só pelas suas próprias forças”.

“Na raiz desta crise está uma atitude de antissolidariedade difusa e escondida como um verdadeiro vírus social, contagioso e difícil de diagnosticar: muitos, de facto, são seus portadores, sem se darem conta”, lamentou.

O cardeal italiano quis “identificar pontos de referência sólidos” e precisou que “como atesta a História, se não se aprende com uma crise, cai-se bem depressa numa outra. Não necessariamente mais leve que a anterior”.

Os católicos, acrescentou, devem promover “modos justos e solidários de viver as relações com os outros, através do bom uso dos bens económicos, do tempo e do respeito pela criação”.

“Note-se que a solidariedade aparece em extrema síntese como a via mais direta e explícita para o bem comum, na condição, porém, de que exista consciência de que todos devem tomar parte ativa na sua edificação”, declarou.

O cardeal Tettamanzi aludiu ainda ao “recente e gravíssimo massacre na Noruega” para frisar a urgência de “retomar e prosseguir o caminho para uma Europa solidária, no seu interior e em favor de um mundo solidário”.

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