"31 Quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória. 32 E serão reunidas em sua presença todas as nações e ele separará os homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, 33 e porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. 34 Então dirá o rei aos que estiverem à sua direita: 'Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo. 35 Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me recolhestes. 36 Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e vieste ver-me'. 37 Então os justos lhe responderão: 'Senhor, quando foi que te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber? 38 Quando foi que te vimos forasteiro e te recolhemos ou nu e te vestimos? 39 Quando foi que te vimos doente ou preso e fomos te ver?' 40 Ao que lhes responderá o rei: 'Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes'. 41 Em seguida, dirá aos que estiverem à sua esquerda: 'Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos. 42 Porque tive fome e não me destes de comer. Tive sede e não me destes de beber. 43 Fui forasteiro e não me recolhestes. Estive nu e não me vestistes, doente e preso, e não me visitastes'. 44 Então, também eles responderão: 'Senhor, quando é que te vimos com fome ou com sede, forasteiro ou nu, doente ou preso e não te servimos?' 45 E ele responderá com estas palavras: 'Em verdade vos digo: todas as vezes que o deixastes de fazer a um desses pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer'. 46 E irão estes para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna".
Em Mt 25, 31-33 diz: "Quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória. E serão reunidas em sua presença todas as nações e ele separará os homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda".
São Jerônimo escreve: "Ele que, dois dias depois havia de celebrar a Páscoa e ser entregue ao escárnio dos homens e à morte de cruz, oportunamente promete o triunfo de sua ressurreição, para compensar o escândalo com a promessa do prêmio. E é de notar que quem há de ser visto com majestade é o Filho do homem", e "Em forma humana, pois, o verão os ímpios e os justos; porque no juízo aparecerá com a mesma forma que tomou de nós; porém, depois será visto na forma divina que todos os fiéis desejam" (Santo Agostinho, In Ioannem, 21) , e também: "Voltará com glória para que seu corpo apareça transfigurado como aconteceu no monte. Seu assento deve entender-se o mais perfeito dos Santos" (Orígenes, Homilia 34 in Matthaeum), e ainda: "Desceu, pois, com os anjos que convocou das alturas para celebrar o juízo, pelo que disse: E todos seus anjos com Ele" (Santo Agostinho, De Civitate Dei, 20, 24), e: "Concorreram todos os anjos para dar testemunho do ministério que exerceram por ordem de Deus para a salvação dos homens" (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 79, 1), e também: "Com o nome de anjos designou também aos homens que julgarão com Cristo, pois sendo os anjos mensageiros, como tais, consideramos a todos os que pregaram aos homens sua salvação. Segue: 'E todos serão reunidos diante d'Ele" (Santo Agostinho, Sermones, 351, 8), e ainda: "Estas palavras provam a verdade da futura ressurreição" (Remígio) , e: "Esta reunião se verificará por ministério dos anjos, a quem se diz no salmo: 'Congregai ao Senhor todos os Santos' (Sl 49, 5)" (Santo Agostinho, De Civitate Dei, 20, 24), e também: "A estes chama cabritos, porém, aos outros ovelhas, para demonstrar que a inutilidade daqueles de nada aproveita, e a utilidade destas, porque é muito o fruto que das ovelhas se tira, como a lã, o leite e os cordeirinhos que nascem. A Sagrada Escritura designa a simplicidade e a inocência com o nome de ovelha... designam aqui os eleitos com este nome" (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 79, 1), e ainda: "O cabrito é animal lascivo, que na lei antiga se oferecia para vítima dos pecados; e não cabras, que podem ter filhotes e saem tosquiadas do tanque" (São Jerônimo), e: "Depois os separa até de lugar, pois segue: 'E colocará as ovelhas à direita, e os cabritos à esquerda" (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 79, 1).
Edições Theologica comenta: "Nos testemunhos dos Profetas e no Apocalipse representa-se o Messias, como os juízes, num trono. Assim virá Jesus no fim dos tempos, para os vivos e os mortos. A verdade do Juízo Universal, que consta já nos primeiros símbolos da Igreja, é um dogma de fé definido solenemente por Bento XII na Constituição Benedictus Deus, de 29 de janeiro de 1336)".
São Boaventura escreve: "Aparecendo então nas nuvens o sinal do onipotente Filho de Deus (Mt 24, 30), e comovidas as forças do céu, entre o horrível fragor do mundial incêndio na conflagração do orbe, colocados os justos à direita e os ímpios à esquerda, o juiz do universo vibrará os raios de sua cólera contra os réprobos. E gritarão aos montes e aos rochedos: caí sobre nós e ocultai-nos dos olhos de quem está sentado no trono, e da ira do cordeiro (Ap 6, 16). Tomará por couraça a justiça, e por capacete a inteireza do seu juízo. Embraçará a equidade como escudo inexpugnável; afiará a sua ira inflexível como uma lança, e todo o universo pelejará da parte dele contra os insensatos, pois esses que combateram contra o Criador de todas as coisas, agora, por justo juízo de Deus, serão guerreados por todas as criaturas. 'Então aparecerá no alto o juiz irado; em baixo, o horrendo caos, o inferno aberto. À direita, os pecados que acusam, à esquerda, infinitos demônios. Desta sorte, preso o pecador, aonde se refugiará? Esconder-se, impossível; comparecer, insuportável. Se o justo mal se salva, onde irá parar o ímpio, o pecador? (1 Pd 4, 18)'. Ó Senhor, não entres em juízo com teu servo!" (Obras Escolhidas) .
Santo Afonso Maria de Ligório comenta sobre o Juízo Universal.
Não há neste mundo, quando bem se considera, pessoa mais desprezada que Nosso Senhor Jesus Cristo. Respeita-se mais a um aldeão que o próprio Deus; porque se teme que esse aldeão, vendo-se injuriado e oprimido, se vingue, movido por violenta cólera. Mas a Deus se ofende e se ultraja sem receio, como se não pudesse castigar quando quisesse (Jó 22,17).
Por isso, o Redentor destinou o dia do juízo universal (chamado com razão, na Escritura, o dia do Senhor), no qual Jesus Cristo se fará reconhecer por todos como universal e soberano Senhor de todas as coisas (Sl 9,17). Esse dia não se chama dia de misericórdia e perdão, mas "dia da ira, da tribulação e da angústia, dia de miséria e calamidade" (Sf 1,15). Nele o Senhor se ressarcirá justamente da honra e da glória que os pecadores quiseram arrebatar-lhe neste mundo.
Vejamos como há de suceder o juízo nesse grande dia.
A vinda do divino Juiz será precedida de maravilhoso fogo do céu (Sl 96, 3), que abrasará a terra e tudo quanto nela exista (2 Pd 3,10). Palácios, templos, cidades, povos e reinos, tudo se reduzirá a um montão de cinzas. É mister purificar pelo fogo esta grande casa, contaminada de pecados. Tal é o fim que terão todas as riquezas, pompas e delícias da terra. Mortos os homens, soará a trombeta e todos ressuscitarão (1Cor 15, 52). Dizia São Jerônimo: "Quando considero o dia do juízo, estremeço. Parece-me ouvir a terrível trombeta que chama: Levantai-vos, mortos, e vinde ao juízo". Ao clamor pavoroso dessa voz descerão do céu as almas gloriosas dos bem-aventurados para se unirem a seus corpos, com que serviram a Deus neste mundo. As almas infelizes dos condenados sairão do inferno e se unirão a seus corpos malditos, que foram instrumentos para ofender a Deus.
Que diferença haverá então entre os corpos dos justos e os dos condenados! Os justos aparecerão formosos, cândidos, mais resplandecentes que o sol (Mt 13,43). Feliz aquele que nesta vida soube mortificar sua carne, recusando-lhe os prazeres proibidos, ou que, para melhor refreá-la, como fizeram os Santos, a macerou e lhe negou também os gozos permitidos dos sentidos! Regozijar-se-á, então, de haver vivido assim, como se alegrou São Pedro de Alcântara, que pouco depois de sua morte apareceu a Santa Teresa de Jesus e lhe disse: "Ó feliz penitência, que tamanha glória me alcançou!" Pelo contrário, os corpos dos réprobos serão disformes, negros e hediondos. Que suplício então para o condenado ter de unir-se a seu corpo! "Corpo maldito - dirá a alma - foi para te contentar que me perdi!" Responder-lhe-á o corpo: "E tu, alma maldita, tu que estavas dotada da razão, por que me concedeste aqueles deleites, que, por toda a eternidade, fizeram a tua e a minha desgraça?"
Assim que os mortos ressuscitarem, farão os anjos que se reúnam todos no vale de Josafá para serem julgados (Jl 4,14) e separarão ali os justos dos réprobos (Mt 13, 49). Os primeiros ficarão à direita; os condenados, à esquerda. Profunda mágoa sente quem se vê separado da sociedade ou da Igreja. Quanto maior será a dor de ver-se banido da companhia dos Santos! Que confusão experimentarão os ímpios, quando, apartados dos justos, se sentirem abandonados! Disse São João Crisóstomo que, se os condenados não tivessem de sofrer outras penas, essa confusão bastaria para dar-lhes os tormentos do inferno. Haverá filhos separados de seus pais; esposos, de suas esposas; patrão, de seus servos. (Mt 24, 40). Dize-me, meu irmão, em que lugar crês que te acharás então? Queres estar à direita? Abandona, portanto, o caminho que conduz à esquerda.
Neste mundo, têm-se por felizes os príncipes e os ricaços, e se desprezam os Santos, os pobres e os humildes. Ó cristãos fiéis, que amais a Deus! Não vos aflijais por viverdes tão atribulados e vilipendiados neste mundo: "Vossa tristeza se converterá em gozo" (Jo 16, 20). Então verdadeiramente sereis chamados bem-aventurados e tereis a honra de ser admitidos à corte de Cristo. Em que celestial formosura resplandecerá um São Pedro de Alcântara, que foi injuriado como apóstata; um São João de Deus, escarnecido como louco; um São Pedro Celestino que, renunciando ao Pontificado, morreu num cárcere! Que glória alcançarão tantos mártires entregues outrora à crueza dos verdugos! (1Cor 4, 5). Que horrível figura, pelo contrário, fará um Herodes, um Pilatos, um Nero e outros poderosos da terra, condenados para sempre! Ó amigos e cortejadores deste mundo! Ide para o vale, naquele vale vos espero. Ali, sem dúvida, mudareis de parecer; ali, chorareis vossa loucura. Infelizes! Tendes de representar um brevíssimo papel no palco deste mundo e preferis o de réprobos na tragédia do juízo universal! Os eleitos serão colocados à direita, e para maior glória - segundo afirma o Apóstolo - serão elevados aos ares, acima das nuvens, e esperarão com os anjos a Jesus Cristo, que deve descer do céu (1Ts 4,17). Os réprobos, à esquerda, como reses destinadas ao matadouro, aguardarão o Supremo Juiz, que há de tornar pública a condenação de todos os seus inimigos.
Abrem-se, enfim, os céus e aparecem os anjos para assistir ao juízo, trazendo os sinais da Paixão de Cristo, disse São Tomás. Singularmente resplandecerá a santa Cruz. "E então aparecerá o sinal do Filho do homem no céu; e todos os povos da terra chorarão" (Mt 24, 30). "Com a vista da cruz, - exclama Cornélio a Lápide - hão de gemer os pecadores que desprezaram sua salvação eterna que tanto custou ao Filho de Deus". "Então - diz São João Crisóstomo - os cravos se queixarão de ti; as chagas contra ti falarão; a cruz de Cristo clamará contra ti".
Os santos Apóstolos serão assessores deste julgamento e todos aqueles que os imitaram. E com Jesus Cristo julgarão os povos. Ali também assistirá a Rainha dos Anjos e dos homens, Maria Santíssima. Aparecerá, enfim, o Eterno Juiz em luminoso trono de majestade: "E verão o Filho do homem, que virá nas nuvens do céu, com grande poder e majestade. À sua presença chorarão os povos" (Mt 24, 30). A presença de Cristo trará aos eleitos inefável consolo, e aos réprobos aflições maiores que as do próprio inferno - disse São Jerônimo. Dai-me o castigo que quiserdes; mas não me mostreis naquele dia o vosso rosto indignado. São Basílio disse: "Esta confusão excede toda a pena". Cumprir-se-á então a profecia de São João: os condenados pedirão às montanhas que caiam sobre eles e os ocultem à vista do Juiz irritado (Ap 6,16).
O Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena comenta: "Na humildade e no sofrimento, veio o Filho de Deus salvar o rebanho que o Pai lhe confiou; no fim dos tempos voltará - Rei glorioso - a julgar os que foram objeto do seu amor" (Intimidade Divina, 377, A).
São Francisco de Sales escreve: "Enfim, uma vez terminado o prazo prefixado pela sabedoria de Deus para a duração do mundo, daqueles inúmeros e vários prodígios e presságios horríveis, que consumirão de temor e tremor os homens ainda vivos, um dilúvio de fogo se alastrará pela terra afora, destruindo tudo, sem que coisa alguma escape às suas chamas devoradoras. Depois deste incêndio universal, todos os homens hão de ressuscitar, ao som da trombeta do arcanjo, e comparecerão em juízo todos juntos, no vale de Josafá. Mas - ah - bem diversa será a sua situação: uns terão o corpo revestido de glória e esplendor e outros se horrorizarão de si próprios. Considera a majestade com que o soberano Juiz há de aparecer em seu tribunal, cercado de anjos e santos e tendo diante de si, mais brilhante que o sol, a cruz, como sinal de graça para os bons e de vingança para os maus. À vista deste sinal e por determinação de Jesus Cristo, separar-se-ão os homens em duas partes: uns se acharão à sua direita e serão os predestinados; outros à sua esquerda e serão os condenados. Separação eterna! Jamais encontrarão de novo juntos" (Introdução à Vida Devota, Capítulo XIV) .
Santo Agostinho escreve: "Que te acontecerá quando chegar o Juízo? Vive de tal modo como se já estivesse à porta, e não o temerás quando vier" (Serm. da Asc.) , e: "Aquele que é hoje testemunha da tua vida, esse mesmo será o juiz da tua própria causa" (Idem.) , e também: "Todas as vezes que medito naquele dia, treme-me o corpo todo... parece-me ouvir continuamente soar aos meus ouvidos aquela tuba terrível a dizer-me: 'Levantai-vos, mortos, e vinde ao Juízo" (São Jerônimo, In Matth.), e ainda: "Deveis trazer com tanto receio e medo diante dos vossos olhos este futuro Juiz, que quando ele vier, não vos encontreis tímidos, mas confiantes; deve-se temer agora para que não se tema então" (São Gregório Magno, Hom. in Ioan.), e: "Temo o fogo eterno, temo o vulto do Juiz, perante o qual tremem as potestades angélicas" (São Bernardo de Claraval), e também: "Aquele que vós deveis temer, fazei que seja vosso devedor" (Santo Ambrósio).
Leituras da Doutrina Cristã explicam sobre o Juízo Universal.
Chegará o último dia do mundo. Terrível cataclismo cairá sobre a terra. Os homens ficarão tomados de pavor e correrão alucinados. A terra será um grande cemitério.
Soará então a trombeta e se ouvirá o chamado: "Levantai-vos, mortos, e vinde ao juízo". A alma de cada homem se unirá ao próprio corpo.
Será o dia mais solene e grandioso da história da humanidade; todos os homens, desde o começo do mundo, estarão reunidos para o juízo.
Em dado momento, aparecerá no céu a Cruz, sinal de nossa redenção. Regozijar-se-ão e aplaudirão os justos. Tremerão os maus.
Aparecerá a Santíssima Virgem que é a Rainha dos Céus e da Terra e a mãe do Juiz. Por último aparecerá Jesus Cristo, "o Filho do homem, na sua Majestade e todos os anjos com Ele, e se sentará sobre o trono" (Mt 25, 31).
Ocupará o posto que lhe corresponde como Rei dos reis e Chefe de todos os chefes de Estado e presidentes que houve na história do mundo.
Vem para que se descubra o que fez cada um. Vem para elevar publicamente os bons, premiando a virtude; para confundir em público os maus, castigando seus vícios, suas injustiças e seus pecados.
Em cada alma humana se verá publicamente neste dia o filme da vida que levou. Ali tudo estará a descoberto: o bem e o mal, o oculto e o público. Momentos de vergonha para uns e de alegria para outros.
Os filhos verão as vidas de seus pais, a esposa a do esposo, todos a de todos.
Enviará então Jesus os seus anjos para que separem os bons dos maus, como o pastor separa os cordeiros dos cabritos.
Em Mt 25, 34-45 diz: "Então dirá o rei aos que estiverem à sua direita: 'Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me recolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e vieste ver-me'. Então os justos lhe responderão: 'Senhor, quando foi que te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos forasteiro e te recolhemos ou nu e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso e fomos te ver?' Ao que lhes responderá o rei: 'Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes'. Em seguida, dirá aos que estiverem à sua esquerda: 'Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer. Tive sede e não me destes de beber. Fui forasteiro e não me recolhestes. Estive nu e não me vestistes, doente e preso, e não me visitastes'. Então, também eles responderão: 'Senhor, quando é que te vimos com fome ou com sede, forasteiro ou nu, doente ou preso e não te servimos?' E ele responderá com estas palavras: 'Em verdade vos digo: todas as vezes que o deixastes de fazer a um desses pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer".
Orígenes escreve: "Os Santos, pois, que realizaram perfeitamente as obras, receberão em prêmio de suas obras perfeitas a direita do Rei, na qual está o descanso e a glória. Porém os maus, por suas obras péssimas e infelizes, ficarão à esquerda, isto é, na tristeza dos tormentos. Continua: 'Então dirá o Rei, etc'. Vinde, para que estando perfeitamente unidos a Jesus Cristo, alcancem ainda o que mais insignificante havia sido para eles; e acrescenta: 'Benditos de meu Pai', para que se manifeste a grandeza da bênção deles, pois com preferência são benditos do Senhor que fez o céu e a terra" (Homilia 34 in Matthaeum), e: "Possuí o reino que está preparado para vocês; também a Igreja presente, ainda que de uma maneira mais imprópria, é chamada seu reino, no qual ainda luta com o inimigo, até que chegue aquele pacífico reino onde se reinará sem inimigos" (Santo Agostinho, De Civitate Dei, 20, 9), e também: "Porém, dirá alguém: Eu não quero reinar, basta salvar-me. Nisso engana; porque não há salvação alguma para aqueles que perseveram na iniquidade" (Idem., Sermones, 351, 8), e ainda: "E por qual mérito os escolhidos recebem os bens do reino celestial? O manifesta quando acrescenta: 'Porque tive fome e me destes de comer" (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 79, 2), e: "É preciso perceber que neste lugar o Senhor menciona as sete obras de misericórdia, as quais, qualquer um que tiver cuidado em cumpri-las, merecerá alcançar o reino preparado aos escolhidos desde a fundação do mundo" (Remígio), e também: "Pois, em sentido místico, observa as leis do verdadeiro amor quem tem fome e sede de justiça e se alimenta com o pão da palavra ou bebe da sabedoria, e o que recebe na casa da Mãe Igreja o que anda errante pela heresia ou pelo pecado, e que admite quem está enfermo na fé" (Rábano), e ainda: "Mas estes, a quem dirá o Juiz quando vier, tendo-os à direita: 'Tive fome', são a parte dos escolhidos que são julgados e reinam, os que limparam as manchas da vida com as lágrimas, os que repararam com as boas ações, tudo o que fizeram de errado no passado" (São Gregório Magno, Moralia 26, 25) , e: "Por causa da humildade se proclamam indignos de elogio por suas boas obras; não por haver esquecido daquilo que fizeram, pois Ele mesmo mostra compaixão pelos seus. Por isso segue dizendo: Então lhes responderão os justos: 'Quando te vimos?" (Orígenes, Homilia 34 in Matthaeum), e também: "Dizem isso certamente não desconfiando das palavras do Senhor, mas admirando de tão extraordinária excelência e da grandeza de sua majestade. Ou porque lhes parecia mesquinho o bem que haviam realizado, segundo o que escreve o Apóstolo: 'Penso, com efeito, que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós' (Rm 8, 18). Continua: E respondendo o Rei, dirá: 'Em verdade vos digo, tudo o que fizestes a um destes meus irmãozinhos pequeninos, a mim o fizestes" (Rábano) , e ainda: "Livremente podíamos entender que Jesus Cristo faminto seria alimentado em todo o pobre, e sedento, saciado. Por isso que segue: 'E tudo quanto fizestes a um de meus irmãos', etc., não me parece que disse referindo geralmente aos pobres, mas aos que são pobres de espírito, a quem havia estendido sua mão: 'São irmãos meus, os que fazem a vontade de meu Pai' (Mt 12, 50)" (São Jerônimo), e: "Assim como havia dito aos justos, vinde (Mt 25, 34), assim também disse aos iníquos, apartai-vos. Os que guardam os Mandamentos de Deus estão mais próximos do Verbo e são chamados para que se aproximem d'Ele ainda mais" (Orígenes, Homilia 34 in Matthaeum) , e também: "Aqui se entende que será um mesmo fogo destinado para suplício dos homens e dos demônios" (Santo Agostinho, De Civitate Dei, 20, 9) , e ainda: "Ou talvez aquele fogo tenha tal substância, que sendo invisível queime as coisas invisíveis; a isto se refere o que disse o Apóstolo: 'As coisas que se vêem são temporais; mas as que não se vêem são eternas' (2 Cor 4, 18). Não fique admirado quando ouvir que o fogo é invisível e castigador, e quando ver que o calor se aproxima e atormenta não pouco interiormente aos corpos. Continua: 'Porque tive fome e não me destes...' Se escreveu aos fiéis: 'Vocês são corpo de Cristo' (1 Cor 12, 27). Logo, assim como a alma qual habita no corpo, ainda quando não tenha fome em relação a sua natureza espiritual, tem necessidade, entretanto, de tomar o alimento do corpo, porque está unida a seu corpo, assim também, o Salvador, sendo Ele mesmo impassível, padece tudo o que padece seu corpo, que é a Igreja. E tem em consideração, que quando fala aos justos, conta seus benefícios enumerando-os um por um, mas quando fala aos iníquos, abreviando a narração, juntou em uma, ambas palavras, dizendo: 'Enfermo e no cárcere e não me visitastes'. Porque era próprio da misericórdia do Juiz ampliar as boas obras dos homens e abreviar suas maldades" (Orígenes, Homilia 34 in Matthaeum), e: "E olha como abandonaram a misericórdia não só num conceito, mas em todos. Porque não só não deram de comer aos famintos, mas também não visitaram os enfermos. Observa de que maneira acrescenta as coisas mais suportáveis, porque não disse: Estava no cárcere e não me tirastes de lá; enfermo e não me curastes; mas disse, não me visitastes e não vieste em minha casa. Além disso, quando tem fome, não pede uma mesa esplêndida, mas, a comida necessária. Todas estas coisas bastam para sofrer a pena. Primeiro, a facilidade em dar o que se pede (pois era pão); segundo, a miséria de quem pedia (pois era pobre); terceiro, a compaixão da natureza (pois era homem); quarto, o desejo de alcançar o que se prometia (pois prometia o reino); quinto, a dignidade do que recebia (pois era Deus o que recebia através dos pobres); sexto, a superabundância da honra (porque se dignou receber da mão dos homens); sétimo, dar o que era justo (pois recebia de nós o que era seu): mas os homens diante de todas essas coisas ficam cegos pela avareza" (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 79, 1), e também: "Mas, reprovados pelas palavras do Juiz, falam com mansidão, pois continua: 'Então eles também o responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome e não te alimentamos, com sede...?" (Idem., Homiliae in Matthaeum, hom. 79, 2), e ainda: "Aqui se trata do último juízo, quando Jesus Cristo vier do céu para julgar os vivos e os mortos. Chamamos último a este dia do juízo divino, isto é, último tempo, pois é incerto" (Santo Agostinho, De Civitate Dei, 20, 1).
Santo Afonso Maria de Ligório comenta sobre o Juízo Universal.
Começará o julgamento, abrindo-se os autos do processo, isto é, as consciências de todos (Dn 7,10). Os primeiros testemunhos contra os réprobos serão do demônio, que dirá - segundo Santo Agostinho: "Justíssimo juiz, sentencia, que são meus aqueles que não quiseram ser teus". A própria consciência dos homens os acusará depois (Rm 2, 15). A seguir, darão testemunho, clamando vingança, os lugares em que os pecadores ofenderam a Deus (Hab 2, 11). Virá, enfim, o testemunho do próprio Juiz que esteve presente a quantas ofensas lhe fizeram (Jr 29, 23). Disse São Paulo que naquele momento o Senhor "porá às claras o que se acha escondido nas trevas" (1Cor 4, 5). Descobrirá, então, ante os olhos de todos os homens as culpas dos réprobos, até as mais secretas e vergonhosas que em vida eles ocultaram aos próprios confessores (Na 3, 5). Os pecados dos eleitos, no sentir do Mestre das Sentenças e de outros teólogos, não serão manifestados, mas ficarão encobertos, segundo estas palavras de Davi: "Bem-aventurados aqueles, cujas iniquidades foram perdoadas, e cujos pecados são apagados" (Sl 31,1). Pelo contrário - disse São Basílio - as culpas dos réprobos serão vistas por todos, ao primeiro relancear de olhos, como se estivessem representadas num quadro. Exclama Santo Tomás: "Se no horto de Getsêmani, ao dizer Jesus: Sou eu, caíram por terra todos os soldados que vinham para o prender, que sucederá quando, sentado no seu trono de Juiz, disser aos condenados: 'Aqui estou, sou aquele a quem tanto haveis desprezado!"
Chegada a hora da sentença, Jesus Cristo dirá aos eleitos estas palavras, cheias de doçura: "Vinde, benditos de meu Pai, e possuí o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo" (Mt 25, 34). Quando São Francisco de Assis soube por revelação que era predestinado, sentiu altíssimo e inefável consolo. Que consolação não sentirão aqueles que ouvirem estas palavras do soberano Juiz: "Vinde, filhos benditos, vinde a meu reino. Já não há mais a sofrer, nem a temer. Comigo estais e permanecereis eternamente. Abençôo as lágrimas que sobre os vossos pecados derramastes. Entrai na glória, onde juntos permaneceremos por toda a eternidade". A Virgem Santíssima abençoará também os seus devotos e os convidará a entrar com ela no céu. E assim, os justos, entoando alegres Aleluias, entrarão na glória celestial para possuírem, louvarem e amarem eternamente a Deus.
Os réprobos, ao contrário, dirão a Jesus Cristo: "E nós, desgraçados, que será feito de nós?" E o Juiz Eterno dir-lhes-á: Já que desprezastes e recusastes minha graça, apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno (Mt 24, 34). Apartai-vos de mim, que nunca mais vos quero ver nem ouvir. Ide, ide, malditos, que desprezastes minha bênção. Mas para onde, Senhor, irão estes desgraçados? Ao fogo do inferno, para arder ali em corpo e alma. E por quantos séculos? Por toda a eternidade, enquanto Deus for Deus.
Depois desta sentença - diz Santo Efrém - os réprobos despedir-se-ão dos anjos, dos santos e da Santíssima Virgem, Mãe de Deus. "Adeus, justos; adeus, cruz; adeus, glória; adeus, pais e filhos; jamais nos tornaremos a ver! Adeus, Mãe de Deus, Maria Santíssima". Nesse instante, abrir-se-á na terra um imenso abismo e nele cairão conjuntamente demônios e réprobos. Verão como atrás deles se fechará aquela porta que nunca mais se há de abrir. Nunca mais durante toda a eternidade!
Ó maldito pecado! A que triste fim levarás um dia tantas pobres almas! Ai das almas infelizes às quais aguarda tão deplorável fim.
O Catecismo Romano ensina: "Cristo Nosso Senhor lançará um olhar de jubilosa complacência para os justos colocados à direita, e com extremos de bondade lhes dirá a seguinte sentença: 'Vinde, benditos de Meu Pai, tomai posse do reino, que vos está preparado desde o princípio do mundo'. Não se poderá ouvir palavra mais suave do que esta! Assim há de averiguá-lo quem a cotejar com a condenação dos maus; quem levar em conta que tal sentença chama os bons e justos, da labuta ao descanso, deste vale de lágrimas aos cimos da alegria, das tribulações à eterna bem-aventurança, que mereceram por suas obras de caridade... Volvendo-se, então, para aqueles que estarão à esquerda, lançará sobre eles o rigor de Sua justiça, usando das palavras: 'Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno que foi preparado ao demônio e seus anjos'. As primeiras palavras - 'apartai-vos de mim' - exprimem a maior das penas que atingirá os maus, quando forem lançados o mais longe possível da presença de Deus, sem que os possa consolar a esperança de virem jamais a gozar de um bem tão grande. Esta é a pena que os teólogos chamam 'pena de dano', porque os réprobos no inferno ficarão para sempre privados da luminosa visão de Deus. O acréscimo 'malditos' agrava-lhes a miséria e desgraça, de uma maneira pavorosa. Se, na verdade, ao serem escorraçados da presença de Deus, fossem pelo menos julgados dignos de alguma bênção, não há dúvida que nisso poderiam ter grande consolo. Mas, como não lhes é dado esperar nada de semelhante para mitigar sua desgraça, de pleno direito a justiça divina os perseguirá, com todas as maldições, a partir do momento em que são repudiados. Seguem-se então as palavras: 'para o fogo eterno'. A esta segunda espécie de tormentos chamam os teólogos 'pena dos sentidos', porque empolga os sentidos do corpo, como acontece nos açoites, flagelações e outros gêneros de suplícios mais pesados. Entre eles, não é para duvidar que a tortura do fogo causa a mais intensa sensação de dor. Como tal suplício sobrevém para durar todo o sempre, temos nesta circunstância uma prova de que o castigo dos réprobos concentra em si todos os suplícios possíveis. Mostram-no, com maior clareza, as últimas palavras da condenação: 'que foi preparado para o demônio e seus anjos'. Por índole nossa, sentimos menos todos os sofrimentos, quando temos algum parceiro a repartir conosco o infortúnio, e que até certo ponto nos assiste e conforta, com sua prudência e bondade. Qual não será, porém, a miséria dos condenados, uma vez que em tantas aflições não poderão jamais apartar-se da companhia dos mais perversos demônios? Muito justa será, naturalmente, a condenação que Nosso Senhor e Salvador há de proferir contra os maus; porque vilipendiaram todas as obras de verdadeira piedade; não deram de comer, nem de beber, ao faminto e ao sequioso; não agasalharam; não cobriram o desnudado; não visitaram o preso, nem o enfermo" (Parte I, Capítulo VIII, 8 e 9) .
O Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena escreve: "Sobre que julgará? Sobre o amor. Porque é o amor a síntese de sua mensagem, o motivo e o fim de toda a obra da Salvação. Quem não ama se exclui voluntariamente do reino de Cristo. No último dia verá confirmada para sempre tal exclusão. Muito concreto será o juízo sobre o amor. Não versará sobre palavras, e sim, sobre fatos: 'Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber...' Embora Rei glorioso, não se esquece Jesus de que é nosso irmão: recompensa como feito a si o mais humilde ato de caridade feito ao menor dos homens: 'Vinde... e recebei o reino preparado para vós desde a criação do mundo'. Síntese do cristianismo, é o amor a condição para sermos admitidos no reino de Cristo que é de amor. Quem ama não terá que temer do juízo de Cristo, Rei de amor" (Intimidade Divina, 377, A) .
Leituras da Doutrina Cristã explicam sobre o Juízo Universal.
Dirá Jesus aos bons: "Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado" (Mt 25, 34). Voltando-se aos que tremem, à sua esquerda, lhes dirá: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o demônio e para seus anjos" (Mt 25, 41) .
Gritarão os condenados: "Insensatos que fomos, julgamos uma loucura e estupidez a vida honrada dos bons... Enganamo-nos no nosso caminho, vivendo na mentira e na ilusão..."
Vivamos de tal modo que no fim da vida possamos ouvir a sentença dos bons: "Vinde, benditos de meu Pai, para o Reino que vos está preparado".
Em Mt 25, 46 diz: "E irão estes para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna".
Santo Agostinho escreve: "Alguns enganam a si mesmos dizendo que esse fogo eterno não é a pena eterna: prevendo isso o Senhor, concluiu sua sentença dizendo assim: E irão estes para o suplício eterno e os justos para a vida eterna" (De Fide et Operibus c. 25) , e: "Adverte que, havendo dito primeiramente: Vinde (Mt 25, 34), benditos, disse depois: Apartai-vos malditos (Mt 25, 41): porque é próprio do bom Deus recordar primeiro as boas ações e os bons, que as más ações e os maus. Neste lugar, nomeia primeiro a pena dos maus e logo a vida dos justos, para que evitemos primeiro os males (que são causa de temor); e logo pratiquemos o bem (que é causa de louvor)" (Orígenes, Homilia 34 in Matthaeum), e também: "Se com tão extraordinária pena é castigado o que é acusado de não haver dado o que é seu; com qual pena haverá de ser ferido o que é acusado por haver tirado o alheio?" (São Gregório Magno, Moralia 25, 10).
Edições Theologica comenta Mt 25, 46.
A existência de um castigo eterno para os réprobos e de um prêmio eterno para os eleitos é um dogma de fé definido solenemente pelo Magistério da Igreja no IV Concílio de Latrão do ano 1215: "Jesus Cristo (...) há de vir no fim do mundo, para julgar os vivos e os mortos, e dar a cada um segundo as suas obras, tanto aos réprobos como aos eleitos: todos eles ressuscitarão com os seus próprios corpos que agora têm, para receberem segundo as suas obras - boas ou más - : aqueles, com o diabo, castigo eterno; e estes, com Cristo, glória sempiterna".
O INFERNO é ETERNO: "E irão estes para o castigo eterno".
A eternidade das penas do Inferno é dogma de fé definido pela Igreja, e consta em muitos lugares da Sagrada Escritura.
Assim, lemos no Apocalipse: "Serão atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos" (14, 10). Deus dirá aos réprobos: "Ide, malditos, para o fogo eterno". Jesus Cristo designa-o por "o suplício eterno" e "o fogo que nunca se extingue" (Mt 25, 41. 46) .
A eternidade das penas não contradiz a misericórdia divina, porque, se esta é infinita, também é infinita a sua justiça.
Santo Afonso Maria de Ligório escreve sobre a eternidade do inferno.
Se o inferno não fosse eterno, não seria inferno. A pena que dura pouco não é grande pena. Se a um doente se rompe um abscesso ou queima uma ferida, não deixará de sentir dor vivíssima; como, porém, esta dor passa em breve não se pode considerá-la como tormento grave. Seria, porém, grande suplício, se a intervenção cirúrgica perdurasse semanas ou meses. Quando a dor é intensa, ainda que seja breve, torna-se insuportável. E não apenas as dores, até os prazeres e as diversões, prolongando-se em demasia: um teatro, um concerto, continuando, sem interrupção, durante muitas horas, causaria tédio insofrível. E se durassem um mês, um ano? Que será, pois, no inferno, onde não é música, nem teatro que sempre se ouve, nem leve dor que se padece, nem ligeira ferida ou superficial queimadura de ferro candente que atormenta, mas o conjunto de todos os males, de todas as dores não em tempo limitado, mas por toda a eternidade? (Ap 20,10).
Esta eternidade é de fé; não é simples opinião, mas sim verdade revelada por Deus em muitos lugares da Sagrada Escritura. "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno. - E irão estes ao suplício eterno. - Pagarão a pena de eterna perdição. Todos serão assolados pelo fogo" (Mt 25, 41.46; 2 Ts 1, 8; Mc 9, 48). Assim como o sal conserva o alimento, o fogo do inferno não só atormenta os condenados, mas, ao mesmo tempo, tem a propriedade do sal, conservando-lhes a vida. "Ali o fogo consome de tal modo - disse São Bernardo - que conserva sempre".
Insensato seria aquele que, para desfrutar um dia de divertimentos, quisesse condenar-se a uma prisão de vinte ou trinta anos num calabouço! Se o inferno durasse, não cem anos, mas apenas dois ou três já seria loucura incompreensível que por um instante de prazer nos condenássemos a esses dois ou três anos de tormento gravíssimo. Mas não se trata de trinta nem de cem, nem de mil, nem de cem mil anos, trata-se de sofrer para sempre penas terríveis, dores sem fim, males incalculáveis sem alívio algum. Portanto, os santos gemiam e tremiam com razão, enquanto subsistia, com a vida neste mundo, o perigo de se condenarem. O bem-aventurado Isaías, posto que passasse os dias no deserto entre jejuns e penitências, exclamava: "Infeliz de mim, que ainda não estou livre das chamas infernais".
O CÉU é ETERNO: "... enquanto os justos irão para a vida eterna".
O Céu é o lugar da eterna felicidade, onde Deus recompensa os justos: "Vinde, benditos do meu Pai, tomar posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo" (Mt 25, 34). É tão diferente de tudo o que conhecemos, que nos é difícil imaginar esse prêmio. No entanto, pela fé, sabemos que existe.
A glória do Céu é essa felicidade que o homem deseja veementemente nesta Terra. O coração humano é feito para amar a Deus, e algumas vezes consegue-o; outras, porém, fica pelas criaturas, que nos escondem Deus.
Na Terra, porém, o gozo é sempre incompleto, ao passo que no Céu a felicidade é perfeita e não terá fim: é a felicidade possuída eternamente, sem descanso e sem cansaço.
Não podemos exprimir com palavras humanas a glória do Céu. São Paulo adverte-nos de que "nem o olho viu nem o ouvido ouviu nem a mente humana compreendeu o que Deus tem preparado para os que O amam" (1 Cor 2, 9) .
O Apocalipse canta que: "Deus mesmo estará com eles e enxugará as lágrimas dos seus olhos, e a morte não existirá mais, nem haverá luto, nem gritos, nem trabalho, porque tudo isso estará já passado" (Ap 21, 3-4).
Santo Agostinho comenta: "Descansaremos e contemplaremos e amaremos e louvaremos" (De civitate Dei, 22, 30: P.L. 41, 804).
É o que ensina a Igreja: "Veremos com clareza o próprio Deus, Trino e Uno, tal como é" (Concílio de Florença, Dz. 693) . Este contemplar a Deus face a face é que se chama a visão beatífica, e ocupará a nossa vida no Céu, enchendo-nos de felicidade.
Santo Afonso Maria de Ligório escreve sobre a eternidade do céu.
A maior tribulação que neste mundo aflige as almas que amam a Deus é a de se acharem desoladas e sem consolo; é o receio de não o amarem e de não serem amadas por ele. No céu, porém, a alma está certa de que se acha venturosamente abismada no amor divino, e de que o Senhor a abraça como filha predileta, sem que esse amor jamais possa acabar-se. Ao contrário, essas chamas se hão de intensificar ainda mais na alma com o conhecimento mais perfeito que terá então do amor que impeliu Jesus a morrer por nós e a instituir o Santíssimo Sacramento, no qual Deus mesmo se dá como alimento ao homem. Verá a alma distintamente todas as graças que Deus lhe prodigalizou, livrando-a de tantas tentações e perigos de perder-se, e reconhecerá que aquelas tribulações, enfermidades, perseguições e reveses, que chamara desgraças e tivera por castigos, eram manifestações do amor de Deus e meios que a Divina Providência punha em prática para a levar ao Paraíso. Reconhecerá, primordialmente, a paciência que Deus teve em esperá-la depois de tê-lo ofendido tanto, e a excessiva misericórdia de conceder-lhe não só o perdão, mas ainda cumulá-la de luzes e convites amorosos. Daquelas alturas venturosas, verá que existem no inferno muitas almas condenadas por culpas menores que as suas e aumentar-se-lhe-á a gratidão por ter-se santificado, gozar da posse de Deus e jamais perder o Bem soberano e infinito.
O bem-aventurado gozará eternamente dessa felicidade incomparável que a cada instante lhe parecerá nova, como se então a começasse a desfrutar. Desejará ter sempre essa felicidade e a possuirá sem cessar: sempre desejosa e sempre satisfeita; sempre ávida e sempre saciada. O desejo, no paraíso da glória, não vai acompanhado de temor, nem o gozo engendra nenhum enfado. Em suma: assim como os réprobos são vasos de ira, assim os eleitos são vasos de júbilo e de felicidade, de sorte que nada lhes resta a desejar. Diz Santa Teresa, que, mesmo aqui na terra, quando Deus admite as almas em sua adega, isto é, no seu amor divino, as embriaga de tal felicidade que perdem toda a afeição às coisas terrenas. Mas, no céu, muito mais perfeita e plenamente os eleitos de Deus, segundo diz Davi, serão embriagados na abundância de sua casa. A alma, então, face a face com o seu Senhor e unindo-se ao Sumo Bem, presa de amoroso delíquio, abismar-se-á em Deus e, esquecida de si mesma, só pensará em amar, louvar e bendizer o Bem infinito que possui.
Quando as cruzes da vida nos oprimem, esforcemo-nos por suportá-las pacientemente com a esperança do céu. À hora da morte, o abade Zósimo perguntou a Santa Maria do Egito, como tinha podido viver tantos anos no deserto, ao que a Santa respondeu: - Com a esperança na glória. Quando ofereceram a São Filipe Néri a dignidade de cardeal, atirou para longe de si o barrete, exclamando: O céu, o céu é que eu desejo. Frei Gil, religioso franciscano, elevava-se extático, cada vez em que ouvia o nome do paraíso celeste. Pois bem! Quando nos atormentarem e angustiarem as misérias deste mundo, levantemos os olhos ao céu e consolemo-nos com a esperança da felicidade eterna.
Consideremos que, sendo fiéis a Deus, hão de em breve acabar-se todos esses trabalhos, essas misérias e inquietações, e seremos admitidos à pátria celestial, onde viveremos plenamente felizes, enquanto Deus for Deus. Ali nos esperam os Santos, ali a Virgem Santíssima, ali Jesus Cristo nos prepara a coroa imarcescível do reino da eterna glória.
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 19 de novembro de 2008
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