segunda-feira, 3 de março de 2014

"Os católicos são pagãos"?

Zelo polêmico e inverdades:

"OS CATÓLICOS SÃO PAGÃOS"?

Em síntese: Uma apostila de pastor protestante injuria os católicos na base de inverdades que tiram a autoridade do autor de tal escrito. Acusações marcadas por contradições não têm valor; antes, depõem contra o acusador, como se verá a seguir.

O pastor Joel Santana é professor de Teologia Sistemática, História Eclesiástica e Heresiologia em vários Seminários Teológicos (Protestantes) no Rio de Janeiro. Publicou uma densa apostila (sem título) na qual em quinze capítulos profere as mais graves injúrias contra o Catolicismo; não somente classifica os católicos como pagãos, mas afirma que "a Igreja Católica é um ninho de cobras, do qual saímos na Reforma Protestante do século XVI; mas as cobras continuaram lá e vêm dando filhotes... Mantenha, pois, distância. Não se iluda pensando que estão mudadas" (cap. 12, não paginado).

Para agredir, o autor recorre mesmo a inverdades, que revelam paixão obsessiva e exagerado senso crítico; falta-lhe a serenidade indispensável quando se quer fazer um trabalho científico merecedor da atenção dos estudiosos. Como quer que seja, visto que o panfleto pode-se tornar pedra de tropeço para muitos leitores, vamos, a seguir, analisar alguns poucos traços que evidenciam que o pastor J. Santana não tem conhecimento exato da realidade que ele julga e condena.

1. Sinopse Histórica

No capítulo I (História do Catolicismo) o autor apresenta o que chama "Sinopse Histórica por ordem cronológica', seção que cataloga datas nas quais se foi deteriorando o Catolicismo, segundo parece ao autor (que, aliás, não faz senão transcrever o que muitos já disseram com o mesmo desconhecimento de causa). Eis os tópicos mais significativos da lista.

-1-

"Em 370 principia-se o uso de altares e velas. Por fim do século IV o culto dos Santos foi introduzido por Basílio de Cesaréia e Gregório Nazianzeno. Também apareceu pela primeira vez o uso do incenso e turíbulo na Igreja por influência dos prosélitos vindos do paganismo".

Altar... Em resposta observamos que o uso do altar é bíblico; portanto data do século 1 dc., para não dizer que vem do Antigo Testamento. Ver Hb 13, 10: "Temos um altar..." assim como Ap 6, 9; 8, 3.

Culto dos Santos... Já no Antigo Testamento a piedade judaica reconhecia a oração dos justos no céu pelos irmãos peregrinos na terra; cf. 2Mc 15, 10-15. Há uma comunhão instituída pelo próprio Deus, entre os fiéis peregrinos e os consumados, comunhão que a morte não dissolve e que o Criador mantém, dando a saber aos justos no céu o teor de nossas preces.

Velas... Basta lembrar a menorah ou o candelabro de sete braços do Antigo Testamento para evidenciar que o uso de velas é herdado do povo judaico e não iniciado no século IV d.C.

Incenso e turíbulo... Já eram do conhecimento dos cristãos do século I; ver Ap 8, 3s. Também são elementos provenientes do Antigo Testamento; cf. Ex 30, 1-3; SI 141, 2.

-2-

"Em 400 Paulino de Nola ordena que se reze pelos defuntos.
Em 590 Gregório o Grande origina o purgatório".

Há aí uma incoerência. Rezar pelos defuntos é rezar pelas almas do purgatório de modo que não pode haver o hiato de 190 anos entre uma coisa e outra. Ademais São Paulino foi Bispo de Nola (Itália) a partir de 409 e nunca teve autoridade sobre a Igreja inteira; em 390 retirou-se para a solidão na Espanha e em 400 nem Bispo era.

O purgatório já era professado pelo povo de Deus do Antigo Testamento, conforme 2Mc 12, 38-45; ver também 1 Cor 3, 10-15.

-3-

"Em 609 o culto à Virgem Maria é obra de Bonifácio IV; e a invocação dos santos e anjos é posta como obrigação e lei da Igreja".

É impressionante a ''precisão" das datas em que as coisas começam, segundo Santana; supõe que tenham sido prescritas por decretos -o que é falso. Muitas práticas - litúrgicas ou não - foram aparecendo espontaneamente cá ou lá na Igreja e só aos poucos se tornaram práticas generalizadas, sem depender de alguma lei. É anacrônico imaginar datas exatas e decretos da autoridade eclesiástica em muitos casos. Assim a devoção aos Santos não é preceituada por lei alguma.

Quanto ao culto à Virgem Maria, é muito anterior a 649, pois já no século III era praticado no Egito, como revela um papiro lá encontrado recentemente; cf. PR 457/2000, p. 280ss; onde se vê o fac-símile da oração "À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus..." (em grego)!

-4-

"Em 670 começa a falar-se em latim a missa, língua morta para o povo, pelo papa Vitélio".

Antes do mais, note-se: em 670 a Igreja era governada pelo Papa São Vitaliano (657-672) e não por Vitélio.
A Missa era celebrada em latim já nos primeiros séculos da era cristã, pois o latim era a língua do povo do Lácio, que se espalhou pela Europa Ocidental. Existem livros litúrgicos (Lecionários, sacramentários...) do século IV.
O leitor está assim diante de mais um anacronismo.

-5-

"Em 758 cria-se a confissão auricular pelas ordens religiosas do Oriente".

A confissão auricular é tão antiga quanto a prática do sacramento da Reconciliação. Nos primeiros séculos a confissão dos pecados era secreta e a satisfação era pública. Ver a propósito PR 350/1991, pp. 304ss.

Os monges irlandeses, entrando no continente europeu, promoveram a frequência do sacramento, e não as Ordens Religiosas do Oriente.
Aliás, a confissão auricular tem origem no próprio Evangelho; cf. Jo 20, 21-23 e comentário no citado artigo de PR.

-6-

"Em 787 no segundo Concílio de Nicéia foi estabelecida a adoração da cruz e das relíquias dos santos".

O Concílio não estabeleceu adoração à cruz como lenho, mas ao Crucificado, que é Deus feito homem. A Cruz é apenas um aceno ou um sinal do Crucificado.

Quanto às relíquias dos Santos, não são adoradas, mas são veneradas como instrumentos do Espírito Santo. As relíquias são relativas aos Santos que elas recordam.

-7-

"Em 795 o incenso foi posto por lei nas cerimônias da Igreja por Leão III".

Pergunta-se: Joel Santana sabe onde está essa lei? Ou ele fala sem saber que diz? Na verdade tal lei não existe. Aliás, J. Santana afirmou, pouco atrás, que o incenso foi introduzido no século IV; ver p. 312.

-8-

"Em 818 aparece pela primeira vez nos escritos de Pascasio Radberto a doutrina da transubstanciação e a missa".

Estranho: pouco atrás dizia J. Santana que se celebrava a Missa em latim no ano de 670. Parece tê-lo esquecido, pois coloca o aparecimento da Missa em 818.

A transubstanciação nada mais é do que a fórmula teológica que corresponde às palavras de Jesus na última ceia: "Isto é meu corpo... Isto é meu sangue". A real presença de Cristo na Eucaristia não começou a ser professada no século IX, mas é documentada pelo próprio Evangelho. "Transubstanciação" quer dizer que a realidade do pão e do vinho se converte na realidade do corpo e do sangue de Jesus.

A noção de "Missa" como sacrifício de Cristo perpetuado através dos tempos depreende-se da Escritura mesma e da Tradição, como se pode ver no Curso sobre os Sacramentos da Escola "Mater Ecclesiae".

Pouco adiante se lê: "Em 1200 o Concílio do Latrão impõe a transubstanciação e a confissão auricular".
Só quem não conhece o assunto pode falar de "impor a transubstanciação"; o que o Concílio (aliás em 1215 não em 1200) impôs, foi a participação dos fiéis na Comunhão Eucarística ao menos por ocasião da Páscoa assim como a confissão sacramental uma vez por ano.

-9-

"Em 998 é estabelecida a festa aos mortos, 'dia de finados' por Odilon. Em 1003 o Papa João XVI aprova a festa das almas dos fiéis defuntos que Odilon criara primeiro".

É despropositado falar de "festa das almas dos fiéis defuntos". Quem conhece o assunto, dirá "Comemoração de todos os fiéis defuntos"; não para festejá-los, mas para os sufragar, é celebrada a S. Liturgia.

Joel Santana vai percorrendo os séculos e aponta cá e lá algum evento de história da Igreja que lhe parece destoar do Evangelho. Ao fazê-lo, revela estar alheio aos temas abordados; repete como papagaio (queira desculpar) o que outros já repetiram, obcecados pelo ódio, que os impede de ler a história com objetividade. O fato, porém, é que a apostila pode impressionar a quem a leia desprevenido. Dizia Voltaire: "Mintam, mintam, porque sempre ficará alguma coisa". É necessário portanto dizer ao leitor que a apostila de Joel Santana é uma caricatura tendenciosa, que não pode ser tida como a verdadeira face da Igreja Católica.

Ainda: em réplica poder-se-ia confeccionar uma "sinopse histórica" realmente histórica, em que se registrasse a data de origem de cada denominação protestante. Essa lista encheria páginas e páginas e constituiria verdadeiro motivo de vergonha para os irmãos protestantes, vergonha que os católicos não experimentam diante da lista apresentada por J. Santana; não experimentam vergonha, mas dor, ... a dor de quem é mal entendido e caluniado por irmãos obcecados. Pode-se imaginar: Comunidade Luterana, C. Calvinista, C. Anglicana, C. Wesleyana, C. Edir Macedo, C. R. Soares...

2. A Mariologia Católica

J. Santana, entre outros pontos, ataca também a Mariologia Católica. Faz um esboço da mesma, que ele escarnece. Eis o que diz:

"Provamos neste capítulo que a Igreja Católica prega que:
1)   Jesus não é o Salvador, mas sim, Juiz;
2)   O ofício de Jesus é julgar e punir, não salvar;
3)   O ofício de salvar o pecado pertence a Maria, não a Cristo;
4)   O coração de Maria é o caminho que nos conduz a Deus;
5)   Maria é a única advogada dos pecadores;
6)   Maria é a verdadeira mediadora entre Deus e os homens;
7)   O pecador não deve recorrer a Cristo, mas, sim, a Maria;
8)   Ninguém pode entrar no Céu sem passar pela porta que é Maria;
9)   Maria morreu para nos salvar;
10) Maria ressuscitou dentre os mortos ao terceiro dia;
11) Maria está no Céu em corpo e alma;
12) Maria é a Rainha do Universo;
13) Maria vai salvar a humanidade;
14) Jesus é o justo Juiz. e Maria, a advogada;
15)O Reinado da misericórdia pertence a Maria, e o Reinado da justiça pertence a Deus;
16) Maria é Mãe de Deus;
17) Maria é Nossa Senhora;
18) Maria é a escada do Paraíso;
19) Quem não é devoto de Maria está perdido nas trevas;
20) Maria é digna de um culto especial, chamado Hiperdulia, isto é, superculto;
21) Maria se manteve virgem por toda a sua vida;
22) Jesus é o único filho de Maria;
23) As estátuas de Maria podem sangrar, chorar, sorrir, exalar fragrância e até falar;
24) A casa na qual Maria vivia em Nazaré, foi transportada por anjos para Loreto, Itália;
25) Maria é onividente;
26) Maria é toda poderosa junto a Deus; etc.

Geralmente, os católicos carismáticos não têm se demonstrado menos endeusadores de Maria do que os católicos tradicionais; pois nos livros e revistas desse movimento encontramos as seguintes heresias:

1) A morte veio por Eva, e a vida por Maria;
2) Maria é a Estrela da manhã;
3) Maria é a porta do Céu;
4) Aleluia a Maria, etc.

Como já sabemos, há, segundo o jornal O Globo, de 28/08/1998, um grupo formado por católicos, pleiteando junto ao Vaticano que Maria seja reconhecida como a 4a (quarta) Pessoa da Divindade.
A finalidade deste livro é a salvação de pessoas sinceras, porém iludidas, vítimas do Catolicismo Romano".


QUE DIZER?
Evidentemente o autor de tais dizeres apresenta uma imagem deturpada. Vejamos

2.1. A autêntica Mariologia Católica

Existe um só Salvador e Mediador - Jesus Cristo -, que por seu sangue derramado no Calvário realizou a Redenção do gênero humano. A salvação assim adquirida não é imposta, mas oferecida a todos os homens; cada qual deve abrir-se para o dom de Deus, fazendo sua renúncia ao pecado e dizendo SIM a Cristo. Nessa tarefa é ajudado pela intercessão dos irmãos e, especialmente, pela da Mãe Maria SSma. Esta, na qualidade de Mãe do Redentor e dos homens, desenvolve um papel próprio de advogada, sem porém acrescentar algo aos méritos de Cristo. Assim Jesus, único Mediador, quer associar a si, para a salvação da humanidade, a mesma natureza humana que contribuiu para a perda do gênero humano. Maria ocupa o lugar de honra nessa obra. Ela não nos salvou pela sua morte. Sabe-se que foi assumida aos céus, mas não se pode dizer que ressuscitou ao terceiro dia. A sua função de intercessora-medianeira é dom de Cristo. Este nada perde ao comunicar aos Santos uma participação na obra salvífica da humanidade, como o professor que comunica sua sabedoria aos alunos nada perde e faz que se multipliquem os sábios.

Em síntese: Maria não salva, mas recebe o dom de colaborar na salvação do gênero humano mediante suas preces muito valiosas, porque preces de Mãe.

2.2. devoção a Maria

A notícia transmitida pela imprensa profana segundo a qual alguns grupos católicos desejam a proclamação de Maria como a quarta Pessoa da SSma. Trindade, está mal formulada. O que alguns pleiteavam, era a definição de Maria SSma. como Medianeira de todas as graças -postulado este que foi posto de lado pelo Papa João Paulo II.

Por mais incrível que pareça, a devoção a Maria brota do cristocentrismo da piedade cristã. Com efeito; o ideal do cristão é configurar-se a Cristo (cf. Rm 8, 29). Ora havia em Cristo dois sentimentos fundamentais: um olhar de amor ao Pai, de quem recebera na eternidade a sua natureza divina, e um olhar para Maria, de quem recebera a sua natureza humana sem o consórcio do varão. Disto se segue que o configurar-se a Cristo implica também dois olhares profundos do cristão: um olhar para o Pai do céu (a quem vamos mediante o Filho no Espírito Santo) e um olhar pra Maria, a Mãe celestial do cristão. Assim entendida, a devoção mariana torna-se consequência natural do Batismo do cristão, não há como descartá-la, como se pode descartar a devoção a Santa Bárbara ou a São Jerônimo.

Quanto às aparições marianas e os fenômenos anexos (sorriso ou pranto de imagens), são discutíveis, pois não se impõem à fé.

3. O Perdão dos Pecados

Muito veemente é o capítulo 5 da apostila intitulado "O falso perdão e o rentável purgatório". Em síntese diz o seguinte:

"O perdão que Deus nos dá não anula a nossa sentença (condenatória), mas tão somente diminui a nossa pena. Portanto para cada pecado perdoado há uma pena menor a ser cumprida. Se essa pena menor não for cumprida aqui, será cumprida após a morte, no estado chamado purgatório.

A Igreja Católica não prega o Evangelho, porque não prega a totalidade e instantaneidade do perdão. Não prega o Evangelho, já que este é a Boa-Nova de que Jesus pagou toda a nossa dívida, sofrendo as consequências dos nossos pecados em nosso lugar".

QUE DIZER?

J. Santana critica uma doutrina que os católicos não professam. Com efeito, ele imagina a Justiça Divina à semelhança da justiça humana. Entre os homens, quando um juiz profere a absolvição de um réu, este pode ir-se tranquilamente, pois o caso está encerrado; ele se vai absolvido, "perdoado", mas portador das paixões desregradas que o levaram ao crime; está inocente por fora, mas podre ou desordenado por dentro. Ora os protestantes transferem essa realidade para o plano das relações do pecador com Deus: Jesus Cristo mereceu o perdão do Pai para todos os pecadores, de modo que, quando Deus absolve um pecador, não há mais que pensar no pecado absolvido. O cristão continua cheio de impulsos desregrados, mas Jesus o cobre com seu manto de santidade e o pecador assim recoberto entra na bem-aventurança celeste. Esta concepção tem sua base na tese de Lutero segundo a qual o homem está vendido ao pecado e não pode livrar-se da desordem interior que lhe é congênita; por conseguinte no céu há portadores de desordem interior que passam por justos porque acobertados por Cristo, que realiza a "justificação forense ou meramente jurídica": o pecador, como pecador crente, tem direito a ver Deus face-a-face porque "traja a capa de um justo". Tal é a doutrina protestante, que consequentemente dispensa qualquer tentativa de erradicar o pecado seja nesta vida, seja no além (no purgatório). Não há que pensar em purificar-se do que não pode ser eliminado.

Bem diversa é a doutrina católica. O católico tem consciência de que, mesmo após a absolvição do pecado, lhe ficam na alma as raízes do pecado ou a concupiscência desregrada. Ele é chamado a ver Deus face-a-face (cf. 1Jo 3. 1-3; 1Cor 13, 12), mas não poderá comparecer diante da face de Deus se trouxer consigo resquícios do pecado; daí a necessidade de purificação após a absolvição. O perdão de Deus é instantâneo e total; recai sobre a culpa, desculpa totalmente, mas o amor desregrado da criatura continua inclinado a tornar ao pecado; fica a propensão a recair, propensão que deve ser erradicada pela ascese nesta vida ou por um repúdio radical no purgatório póstumo.
A necessidade de tal purificação é incutida pelo Apóstolo em várias passagens de suas cartas.

"Não sabeis que aqueles que correm no estádio, correm todos, mas um só ganha o prêmio? Correi, portanto, de maneira a consegui-lo. Os atletas se abstêm de tudo; eles, para ganhar uma coroa perecível; nós, porém, para ganhar uma coroa imperecível. Quanto a mim, é assim que corro, não ao incerto, é assim que pratico o pugilato, não como quem fere o ar. Trato duramente o meu corpo e o reduzo à servidão, a fim de que não aconteça que, tendo proclamado a mensagem aos outros, venha eu mesmo a ser reprovado" (1 Cor 9, 24-27).

"Os que são de Cristo Jesus, crucificaram a carne com suas paixões e seus desejos" (Gl 5, 24).

"O querer o bem está ao meu alcance, não porém o praticá-lo. Com efeito, não faço o bem que eu quero, mas pratico o mal que não quero" (Rm 7, 19).

A purificação do coração que o Apóstolo apregoa e que a Igreja Católica proclama, não é castigo, não é multa devida ao pecado, mas é concessão da misericórdia divina, que concede ao homem a ocasião de sepreparar para a visão de Deus face-a-face. O purgatório não é punição graduada de acordo com a gravidade das faltas já absolvidas, mas é a antecâmara do céu, em que espontaneamente a alma se livra dos resquícios do pecado, repudiando-os cabalmente. A doutrina católica, à diferença da protestante, julga que tal purificação é possível por graça de Deus e que a criatura na visão beatífica não é um palhaço revestido com o manto de um rei.

Aliás a doutrina do purgatório é patrimônio do povo de Deus desde os tempos pré-cristãos; ver 2Mc 12, 38-45 e 1Cor 3, 10-15.

4. Conclusão

Em última análise, a agressividade que J. Santana dirige contra a Igreja Católica, é dirigida contra Cristo, que terá negligenciado a sua Igreja, apesar da promessa de lhe assistir infalivelmente até o fim dos tempos (ver Mt 28, 18-20). Com efeito, Jesus fundou uma Igreja ("minha Igreja" em Mt 16, 18), que Ele confiou a Pedro e seus sucessores, prometendo-lhes assistência até a consumação da história. Terá Jesus esquecido quanto prometeu? Terá falhado na preservação da sua obra, de modo que só no século XVI começaram os cristãos a viver o autêntico Cristianismo? Quinze séculos decorreram no paganismo? - Quem ousaria acusar Jesus desta maneira? Seria blasfêmia.

Ele não esqueceu a sua Igreja, mas permitiu que o inimigo nela disseminasse o joio sem detrimento para o trigo; este vai crescendo normalmente ao lado do joio. Quem procura o trigo de Deus, encontra-o na Igreja que Deus fundou e não o vai buscar numa comunidade fundada por homens ditos "reformadores", que se improvisam às centenas. A Igreja Católica é Santa Mãe portadora de filhos sujeitos ao pecado, mas guarda incólume o patrimônio que Jesus Cristo lhe legou.

Dom Estêvão Bettencourt (OSB)

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