segunda-feira, 3 de março de 2014

"O Grande conflito".

Livro polêmico:



Em síntese: Os adventistas do sétimo dia têm por obra fundamental da sua fé religiosa a obra da Sra. Ellen Gould White intitulada "O Grande Conflito". Ataca a Igreja Católica e o Papa como agentes do demônio neste mundo e enfatiza a proximidade do retorno do Senhor Jesus para instaurar um reino de bonança. O livro se vale de falsas afirmações, preconceitos e das "visões" que a autora diz ter recebido do Senhor.

O livro "O Grande Conflito", devido à autoria da sra. Ellen Gould White é um compêndio da que os cristãos adventistas professam. A obra já estava na 13a edição em 1973 numa tiragem total de 300 milheiros.

O Adventismo foi fundado quando William Miller, simples camponês; predisse aos seus compatriotas norte-americanos a pretensa data exata do fim do mundo primeiramente para 1843 e, posteriormente, para 1844. Embora nada do predito tenha até hoje acontecido, os adventistas esperam para os próximos tempos a segunda vinda de Cristo. A sra. Ellen assumiu a posição de doutrinadora da comunidade adventista mediante livros, dos quais o mais famoso é o que passa a ser apresentado.


A autora começa referindo a destruição de Jerusalém em 70 d.C. como cumprimento parcial de outro fim... o do mundo quando Cristo vier a julgar os vivos e os mortos. Toda a história da humanidade é considerada como um grande conflito entre o Bem e o Mal entre Satanás e o plano de Deus. A autora porém, se detém apenas na história do Cristianismo, frisando os séculos que vão do edito de Milão e Paz para os Cristãos até o século passado.

Julga E. G. White que o demônio fez um assalto decisivo à Igreja quando Constantino Imperador concedeu liberdade aos cristãos. Então manifestasse o "homem do Pecado" (o Papa) com ambições paganizantes. A partir de então novos e novos usos derivados do paganismo foram introduzidos na Igreja. Assim, para substituir os ídolos, foram exaltados os Santos e sua veneração; a eles passaram os fiéis a acender velas. O sábado, dia de guarda dos judeus, foi transferido para o domingo, em que os pagãos adoravam o Sol. Com estas e outras práticas, os Papas conseguiram impor aos fiéis o terror e o obscurantismo, dizem.

Foi atribuída ao Papa tão grande autoridade que ele parecia ser Deus, segundo afirma E. G. White; haja vista que o Imperador Henrique IV da Alemanha trajou vestes penitenciais e foi procurar o Papa Gregório VII para pedir a absolvição de uma excomunhão; no século XI. Na Idade Média ainda outros abusos terão sido introduzidos; para a remissão dos pecados, haveria o purgatório e as indulgências... e para os hereges haveria a Inquisição.

A autora nota que houve dissidências da Igreja dita "romana", principalmente a dos Valdenses, que usavam as Escrituras Sagradas para fazer criticas à Igreja. Refere-se longamente a John Wiclef e lan Hus, aquele na Inglaterra, e este na Boêmia; propagavam a tradução e a difusão da Bíblia nas línguas vernáculas da época - o que a Igreja não via com bons olhos, pois a Bíblia, nas mãos de pregadores exacerbados, se tornara um arsenal de heresias e confusões de todo tipo.

Wiclef e Hus prepararam o ambiente e os caminhos da Reforma Luterana, que explodiu em 1517, Lutero levantou um brado de Revolução contra o Papado e a Igreja, que encontrou eco entre os nobres e príncipes da Alemanha. Isto deu ocasião a graves tumultos em toda a Alemanha e deu origem à libertação dos povos oprimidos pelo jugo papal. É a esta fase que E. G. White dá o nome de "Despertar das Nações". Seguiu-se-Ihe "A Esperança Triunfante" ou o século em que William Miller pôs em foco a proximidade da segunda vinda de Cristo para instaurar um reino milenar de paz e justiça sobre a terra, com a participação exclusiva dos justos. É nesse momento que começa a existir o Adventismo.

Satanás, o pior inimigo do homem, continua a atormentar os que desejam ser fiéis às Escrituras lendo a Bíblia, observando o sábado e práticas alimentares da organização adventista.

Passada a tormenta, Cristo virá a instalar a ordem na terra. Ao referir-se a este desfecho da história, a autora do livro escreve em seu último capítulo intitulado "O final e glorioso triunfo".

"O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O universo inteiro será purificado. Uma única população de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. Daquele que tudo criou emanam vida, luz e alforia todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até o maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza, perfeito gozo, declaram que Deus é amor" (p. 675).

Eis, em síntese, a história como a sra. White a vê. Referimo-la sem utilizar a sua linguagem agressiva e fanática a ponto de cair na inverdade, evitando assim a polêmica acesa que o livro pode provocar.

2. Que dizer?


Se verídica é a história narrada pela sra. White, deve-se atribuir ao próprio Deus o fracasso da obra de Jesus Cristo. Com efeito

-Jesus quis fundar uma Igreja (“minha Igreja”. Mt 16, 18);

Jesus prometeu que mandaria o Espírito Santo, que levaria os discípulos à verdade plena (Jo 16,13);

Além do quê Jesus prometeu estar com os Apóstolos e seus sucessores até a consumação dos séculos (Mt 28, 20).

Diante do que a sra. White refere, Jesus é culpado de omissão ou de não cumprimento de suas promessas. Terá deixado que o paganismo viesse a dominar a Igreja. Do século IV ao século XVI ninguém terá entendido o Evangelho; S. Agostinho de Hipona, S. Francisco de Assis, Santa Clara, S. Tomás de Aquino e outros grandes vultos da história não terão compreendido nem vivido o autêntico Cristianismo; somente no século XVI e, por excelência, no século XIX terá sido interpretada corretamente a Escritura por obra dos reformadores.

Pergunta-se então: por que a Providência Divina não mandou com mais antecedência os profetas e a profetisa do genuíno Cristianismo? Por que permitiu que a Igreja, que tem a promessa da assistência de Cristo, fosse ocupada por tantos anticristos?

Vê-se a que absurdos chega a história do Grande Conflito. Jesus não abandonou a sua Igreja nem a entregou ao Maligno. Ele a fez bela, sem mancha nem ruga, Mãe porém de filhos pecadores, que desfiguram o autêntico semblante da Esposa de Cristo. Os pecados (e só Deus sabe quantos foram realmente pecados pois pode alguém cometer candidamente ou de boa fé atos maus) não extinguem a santidade da Mãe-lgreja, que traz ela mesma o remédio para a fragilidade humana dos seus filhos. Também o Senhor na parábola do joio e do trigo previu que haveria joio ao lado do bom trigo no campo da sua Igreja (cf. Mt 13, 26-30).

Não acusemos Jesus; Ele é Deus feito homem. Mas, se é o caso de acusar, acusemos aqueles que querem fundar novamente a Igreja, esquecendo que a Igreja fundada por Cristo não pode ser recomeçada, pois Ela não perdeu a assistência do Senhor Jesus. O que pode haver são reformas na Igreja (no setor da Catequese, da Liturgia, da Pastoral...) nunca, porém, reforma da Igreja como tal.

Quanto às profecias sobre a data do fim do mundo, foram frustradas por duas vezes nos tempos de William Miller. Após mais de 150 anos, o mundo continua seu curso normal com seus altos e baixos. Todos os cristãos esperam a segunda vinda de Cristo, mas não se esmeram por procurar definir essa data, que Deus não quis revelar aos homens.


Ellen Gould White professa as teses do protestantismo. Todavia merecem atenção os pontos seguintes:

A transferência do repouso do sábado para o domingo nada tem que ver com o dia do Sol pagão. Ela se deve ao fato de que Jesus ressuscitou, mostrando a nova criatura, após o primeiro fim de semana ou após o sábado. Este primeiro dia tornou-se então por excelência o dia do Senhor, como atesta São João em Ap 1,20; usa a expressão kyriakè heméra, que em latim soa "dominica dies", donde dominga e domingo em português. Esse dia do Senhor era o das assembléias litúrgicas dos cristãos; ver 1Cor 16s : "Quanto à coleta em favor dos irmãos... cada um, no primeiro dia da semana, coloque à parte o que conseguiu economizar, sem aguardar minha chegada para recolher os donativos".

At 20, 7: "No primeiro dia da semana, estávamos reunidos para partir o pão...".

Por conseguinte não foram os Papas que fizeram a transferência, mas os próprios Apóstolos.

É descabido dizer que os Santos começaram a ser venerados em lugar dos deuses do paganismo a partir do século IV. - Basta ler as Atas dos Mártires dos três primeiros séculos para averiguar que o culto de veneração aos Santos nasceu juntamente com a era dos mártires, se não no Antigo Testamento, onde se lê que Onias, sumo sacerdote falecido e Jeremias no além oravam pelo povo de Deus militante na terra.

A tese de que as almas adormecem pela morte do homem e ficam inconscientes na outra vida, equivale a uma crença do Antigo Testamento, que admitia o cheol, região subterrânea, onde bons e maus se encontravam reunidos em estado inconsciente; cf. S116, 6; Is 38, 18s, ao contrário, o Novo Testamento ensina que, logo após a morte, o homem entra na sua sorte definitiva; os bons verão a Deus face a face; cf. Fl 1, 21-23; 2Cor 5, 6-10; Ap 4 e 5 (a corte celeste)...


A promessa de vitória do Bem sobre o Mal no grande conflito da história não é exclusiva da mensagem adventista, mas é comum a todas denominações cristãs. Ellen Gould White chega a esse desfecho comum trilhando a via dos preconceitos e do desconhecimento da história da Igreja. Estas notas características percorrem o livro inteiro e poderiam merecer-lhe o título "A grande agressão à obra do Cristo Jesus inseparável da Igreja que Ele fundou".

Dom Estêvão Bettencourt (OSB)

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