V. M. (Nova Venécia) e OUROPRETANO (Minas): Os dois amigos transcrevem passagens de periódicos e panfletos em que são citados autores medievais e modernos a endeusar aparentemente os Pontífices Romanos; seriam testemunhos de aberrações cometidas pelos fiéis católicos no decorrer dos séculos. Perguntam-nos: que pensar desses trechos?
Já que dispomos de pouco espaço, analisaremos apenas o principal documento citado; o resultado da análise mostrará quão pouco fidedignas e convincentes são as outras citações.
O mais importante trecho aduzido é de S. Roberto Belarmino (1542-1621), doutor da Igreja. — Para dar uma idéia de quanto os adversários do Catolicismo são, por vezes, mal informados ao fazerem as suas objeções, transcrevemos aqui o teor original de tal texto e do seu respectivo contexto. Tratando do segundo objeto da infalibilidade papal (a Moral), escreve o S. Doutor:
"Eis como se prova que o (Sumo) Pontífice não pode errar ao definir assuntos referentes aos costumes, sejam virtudes, sejam vícios.
Suposto que pudesse errar, a Igreja não poderia ser chamada santa, tal como é dita no Símbolo dos Apóstolos...
Em segundo lugar, suposto que o Papa pudesse errar no caso acima, também a Igreja erraria em matéria de fé. Sim, a fé católica ensina que toda virtude é boa e todo vício é mau. Ora, se o Papa errasse, preceituando vícios ou proibindo virtudes..., a Igreja, se não quisesse pecar contra a sua consciência, estaria obrigada a crer que os vícios são bons e as virtudes más ... Pois a Igreja em casos dúbios é obrigada a aquiescer ao juízo do Sumo Pontífice e a fazer o que ele manda e a deixar de fazer o que ele proíbe; para não agir contra a sua consciência, ela está obrigada a crer que é bom o que ele (o Papa) ordena, mau o que ele proíbe".
Como se vê, este texto de modo nenhum visa atribuir ao Romano Pontífice os poderes de mudar as categorias do bem e do mal, como insinuam os adversários. Ao contrário, a intenção de S. Belarmino é a de afirmar que o Papa, ao promulgar uma definição moral válida para a Cristandade inteira, jamais pode preceituar algo que seja vício ou proibir algo que seja virtude. Porque, diz o S. Doutor, se pudesse errar desse modo, a Igreja estaria obrigada a crer que o vício é coisa boa e a virtude é coisa má. Tal crença, porém, seria um verdadeiro absurdo, uma inconcebível hediondez. Por isto, conclui o Santo, seria também um verdadeiro absurdo imaginar que o Papa pudesse mandar praticar o vício e evitar a virtude; o Sumo Pontífice, por conseguinte, ao promulgar algum preceito para todos os fiéis, só pode promulgar coisa boa e santa;o Espírito Santo o preserva de erro em tal caso, isto é, garante-lhe o dom da infalibilidade, de que tratamos na qu. 4 deste fascículo, assim como em "P.R." 14/1959, qu. 3.
Para tentar insinuar algo contra a fé católica mediante os dizeres de S. Belarmino, os adversários têm que isolar do seu contexto algumas frases, às quais atribuem sentido exatamente oposto ao do autor, como se esse oposto fosse o sentido mesmo ensinado pelo S. Doutor ! Talvez, porém, seja mais provável que os adversários jamais tenham visto as obras que citam, nem tenham lido os textos originais de S. Belarmino e de outros autores católicos. Citam possivelmente de segunda ou terceira mão, sem conhecer o terreno em que pisam...
Na verdade, só combate a Igreja de Cristo quem não a conhece devidamente.
Dom Estêvão Bettencourt (OSB)
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