Ontem à noite, assisti a entrevista do Pe. Fábio de Melo no programa do Jô e, embora já esperasse algo dessa natureza, achei muito estranho. Primeiro que o Pe. Fábio, embora tenha ido mais comportado no que se refere às suas roupas, ainda não trajava nada específico de um sacerdote. Mas, no contexto, isto é o de menos.
Na entrevista, o Pe. Fábio pareceu querer ser mais amigável do que representante da Igreja. Claro… o Jô Soares goza de grande fama neste meio, de modo que se torna quase uma honra receber o convite para participar do seu programa. A intimidação que daí decorre é quase natural. Mas o Pe. Fábio, mesmo portando-se com todo o respeito que demonstra, poderia ter sido mais “católico” no sentido estrito do termo.
Primeiro que o Jô Soares costumava dar alfinetadas no padre a respeito da Igreja e, estranhamente, vi o padre mais concordar do que rebater. Claro que se percebe que ele tentava contornar a partir de uma explicação mais aceitável, creio que com dupla finalidade: demonstrar o porte refinado de um sacerdote e evitar discussões. Bem, isto foi uma impressão que tive.
Sobre o tema que rolou, o Pe. Fábio, com um estranho gracejo, começou dizendo que havia entrado no seminário, aos 16 anos, depois que viu a piscina do lugar. Que motivação mais estranha! Claro que, como eu disse, foi um gracejo… pelo menos, espera que tenha sido.. Sempre com sua conversa contra os rígidos discursos teológicos, afirmou que a teologia deve cumprir a função de ligar e não de dividir, o que a tornaria diabólica. Parece que o Pe. Fábio esqueceu da grande divisão do trigo e do joio, ou das trevas e a luz que não se conciliam, ou talvez ele não conheça, por exemplo, a grande mística Santa Catarina de Sena que afirma que, entre a Verdade e o erro, devemos fazer, não simplesmente uma tênue linha divisória, mas cavar verdadeiros abismos. Mais estranho foi ele admitir que há dias em que não celebra, por causa das viagens… Embora tenha ficado aparente que tais dias são poucos, é estranho um sacerdote deixar de fazer, ao menos um dia, aquilo que é o grande sentido de sua vocação.O Padre disse ainda da impossibilidade de um padre assumir sua vocação sem a experiência de ter amado muito, e isto ele falou no contexto humano da relação a dois, pois então dizia ter sido muito namorador na adolescência. Para tal afirmação, argumentou que o conhecimento do sacerdote não pode ser teórico, mas experiencial. Ora, considerando as implicâncias desta afirmação, as experiências, ainda que pecaminosas, seriam essenciais para a formação do sacerdote? E aqueles que trabalham com drogados e com outras pessoas problemáticas? Estranho…
Diante das questões do Jô Soares, Pe. Fábio de Melo parecia demonstrar ser diferente da maioria dos padres, isto é, parecia demonstrar estar em posse de uma visão mais evoluída do sagrado e dos assuntos pertinentes a este campo. Isto, naturalmente, leva as pessoas a uma óbvia comparação. Se o Padre Fábio de Melo, com este porte, é representante da linha mais evoluída da Igreja e, como tal, ele não é tradicionalista, então, os que se mantêm fiés ao ensino de sempre e dogmático da Igreja, são, naturalmente, inferiores e retrógrados. A Igreja, então, aparece, em sua forma conservadora, como antiquada e inadequada aos tempos atuais. Tudo isto, é claro, fica nas entrelinhas.
Outra coisa terrível é que o Jô emitiu sua opinião a respeito do matrimônio tal qual a Igreja o concebe. Dizia ele que acha ridículo que duas pessoas se unam apenas para procriar. E o Pe. Fábio, nos arrodeios “filosóficos” pincelou por cima a questão da união do casal, mas não disse claramente do duplo caráter, unitivo e procriativo, do matrimônio. Diante do discurso adocicado do entrevistador que afirmava ser o amor mais importante, Pe. Fábio não rebateu afirmando ser parte integrante do verdadeiro amor entre o casal, a abertura para a concepção dos filhos. O amor, enquanto tal, fundamenta-se em Deus e, por isto, realiza-se como efetivação da vontade divina. Para o Jô, o amor é uma simples atração física, não necessariamente heterossexual, puramente hedonista. E o Pe. Fábio ficava de risadinhas e citação de pensadores de não sei onde e de não sei quando…
O mais estranho, porém, de toda a entrevista, foi no que concerne à Santa Missa. Criticava o apresentador as cerimônias católicas da Santa Missa que, de tão solenes, impediam o público de se encantar. Dizia ele da necessidade do espetáculo “no bom sentido”, e criticava ainda a “tristeza” de certos ambientes, quando, na verdade, a grande característica deveria ser a alegria.
Pe. Fábio de Melo, por sua vez, até bem criticou a “banalização” atual da liturgia e disse que gostava de evitar estas coisas, razão pela qual suas celebrações eram, geralmente, com pouca gente e em ambientes mais recolhidos. Bem.. estas tais celebrações eu nunca vi, e delas nada falo. Mas já o vi, em outras oportunidades, celebrar bem ao modo que lhe é característico, isto é, o de um artista que prende a atenção do público, como se fosse um protagonista da Liturgia.
Pe. Fábio, porém, defendeu a teoria de que a celebração da Santa Missa, nas suas origens, constituiu-se como um banquete. Ora, esta visão da Santa Missa quase como um refeitório que visa apenas à união dos cristãos é puramente luterana. E o ponto mais essencial da Santa Missa? A Santa Missa é o Sacrifício de Cristo! Não se faz festa diante da cruz! Não se deve estar preocupado em satisfazer o público com novidadezinhas ou discursos romantizados quando estamos diante da Cruz! Eis aí o grande motivo da gravidade católica! Eis aí o grande motivo do grande inconveniente de estar ao risos ou às reboladas ou às palmas no Santo Sacrifício da Missa! É o Calvário perpetuado!
E, na sua reta compreensão, toda a Liturgia, embora não dispense a participação dos fiéis, é, antes de tudo, voltada para Deus. Daí ser totalmente ilícito satisfazer a sede de criatividade e invencionices de certos sensacionalistas que, de tudo, querem fazer ocasião de algazarra e de inconvenientes novidades que em nada se coadunam com a verdadeira Fé Católica e com o espírito da Liturgia.
Respeito o Pe. Fábio de Melo, principalmente pelo seu sacerdócio. Mas que falta não faz um sacerdote que, seguindo a linha tradicional, arranque dos que estão ao seu lado o torpor em que vivem e os desperte para, como dizia Gustavo Corção, a terrível seriedade do cristianismo!
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/
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