No dia em que arranca o 37.º encontro nacional nesta área, o padre Pedro Ferreira denuncia «falta de formação» e «ignorância» dos fiéis
Fátima, Santarém, 25 jul 2011 (Ecclesia) – O responsável pelo setor da Igreja Católica que coordena a liturgia, padre Pedro Ferreira, afirmou hoje que os fiéis “têm dificuldade em rezar nas celebrações”, lacuna que atribui à “ignorância” e ausência de formação, entre outros fatores.
“Falta muito a dimensão orante”, sublinhou o sacerdote em entrevista à Agência ECCLESIA, acrescentando que “é muito difícil rezar com os cânticos que se cantam e é muito difícil rezar com as maneiras como se celebra a liturgia”.
O diretor do Secretariado Nacional da Liturgia (SNL) assinala que “há muita gente, sobretudo de boa sensibilidade, como os artistas, que se queixam da dificuldade em encontrar celebrações onde possam rezar”.
Depois de referir que a oração dentro das celebrações, nas quais se destaca a missa, compreende “a forma como se lê”, os “gestos do presidente” e a “maneira de vestir” dos crentes, o padre Pedro Ferreira critica a “tendência para secularizar tudo e retirar o sagrado da liturgia”, uma “moda dos tempos que também passará”.
Muitos fiéis “querem missas bonitas, folclóricas, muito agradáveis, um espetáculo; ora, para isso temos outras coisas”, frisa o responsável, acrescentando que não se pode “inventar a liturgia” nem “o padre não pode celebrar a eucaristia como quer”.
O responsável considera que a ausência de educação litúrgica é o maior desafio da liturgia católica portuguesa, que tem de debater-se com a “muita ignorância e falta de respeito” existentes no interior da própria Igreja.
“Sempre que se impede que Cristo fale à assembleia e sempre que se impede a assembleia de rezar com Cristo ao Pai, estamos a prestar um mau serviço à humanidade”, assinala.
O sacerdote pronunciou-se também sobre os comentários negativos que surgem quando se discute o regresso aos antigos rituais litúrgicos: “Cria-se um ambiente de crítica, pensando-se que a hierarquia [da Igreja] está a ser fundamentalista, que estamos a voltar ao latim e às cerimónias. Tudo isto é por causa da falta de formação”.
As declarações do religioso pertencente à congregação dos Carmelitas Descalços foram proferidas horas antes do início do 37.º Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica, que decorre em Fátima entre hoje e sexta-feira.
O padre Pedro Ferreira revelou que o tema ‘Liturgia – A Igreja em oração’ vai reunir 1100 inscritos, menos 250 do que em 2010 e o número mais baixo dos últimos 12 anos, de acordo com dados indicados no site do SNL.
Entre os presentes, 2/3 são participantes habituais e perto de 1/3 são jovens, avançou o responsável, adiantando que há também inscrições de países como Cabo Verde, Itália e Suíça.
A edição deste ano, que se realiza na nova igreja da Santíssima Trindade, distingue-se das anteriores por dedicar a parte da manhã à vivência prática da liturgia, começando pelas Laudes, oração de louvor no início do dia, e continuando com a preparação e celebração da missa, transmitida por uma estação de televisão.
As tardes incluem uma conferência, prosseguindo com o ensaio e celebração das Vésperas, oração que a Igreja reza ao entardecer, enquanto que o programa noturno prevê uma celebração penitencial e uma vigília, além da oração do terço acompanhada pela procissão de velas, rito que decorre diariamente no santuário da Cova da Iria.
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