A Sagrada Liturgia nos convida a rezar pelos nossos queridos que faleceram, dirigindo o pensamento para o mistério da morte, herança comum de todos os homens. No dia da comemoração dos defuntos todos somos chamados a confrontar-nos com o enigma da morte e, por conseguinte, como viver bem, como encontrar a felicidade. Canta o Salmo: bem-aventurado o homem que doa; bem-aventurado o homem que não usa a vida para si mesmo, mas partilha; feliz o homem que é misericordioso, bom e justo; feliz o homem que vive do amor de Deus e do próximo. Assim vivemos bem e não devemos ter receio da morte, por que estamos na felicidade que provém de Deus e que permanece para sempre.
A Igreja sempre rezou pelos mortos. A Tradição da Igreja exortou sempre a rezar pelos defuntos. O fundamento da oração de sufrágio encontra-se na comunhão do Corpo Místico. O Concílio Vaticano II recorda: "Tendo perfeito conhecimento desta comunhão de todo o Corpo Místico de Jesus Cristo, a Igreja terrestre, desde os primeiros tempos do Cristianismo, venerou com grande piedade a memória dos defuntos". (Lumen gentium, 50).
Muitos perguntam por que rezar pelos mortos: o Concílio nos responde: "A fé, apoiada em argumentos sólidos, oferece uma resposta à sua ansiedade acerca do seu destino futuro, e dá-nos igualmente a possibilidade de uma comunhão em Cristo com os nossos irmãos queridos, arrebatados já pela morte, dando-nos a esperança de que eles encontraram a vida verdadeira junto de Deus" (Gaudium et spes, 18).
Na semana de Finados, “aos que visitarem o cemitério e rezarem, mesmo só mentalmente, pelos defuntos, concede-se uma Indulgência Plenária, só aplicável aos defuntos. Diariamente, do dia 1º ao dia 8 de novembro, nas condições costumeiras, isto é, confissão sacramental, comunhão eucarística e oração nas intenções do Sumo Pontífice; nos restantes dias do ano, Indulgência Parcial (Encher. Indulgentiarum, n.13)”. “Ainda neste dia (2 de novembro), em todas as igrejas, oratórios públicos ou semi-públicos, igualmente lucra-se uma Indulgência Plenária, só aplicável aos defuntos: a obra que se prescreve é a piedosa visitação à igreja, durante a qual se deve rezar o Pai-nosso e o Creio, confissão sacramental, comunhão eucarística e oração na intenção do Sumo Pontífice (que pode ser um Pai Nosso e Ave-Maria, ou qualquer outra oração conforme inspirar a piedade e devoção).” (pg. 462 do Diretório Litúrgico da CNBB).
Ao lucrar a indulgência, todas as orações pertencem à comunhão dos santos, que é a união da Igreja que está na Terra, no Céu e no Purgatório, naquilo que chamamos de Igreja militante, Igreja triunfante e Igreja padecente, respectivamente. Nesse dia é impossível não recordar também como estamos nos preparando para o encontro com Deus. É importante que, ao rezar pelos irmãos que partiram, nós reflitamos sobre o sentido último de nossas vidas.
O gesto bonito de marcar missas pelos seus defuntos deve ser revalorizado em nossas comunidades, bem como o de visitar os cemitérios. Não nos esqueçamos de pedir missas pelas almas do purgatório, rezando pelos que são vítimas da violência urbana e pelas almas dos que foram enterrados como indigentes. Estaremos celebrando uma missa especial por eles no Cemitério de Santa Cruz. Da mesma maneira que ajudaríamos em vida os irmãos enfermos, assim, depois de mortos, devemos ter piedade dos fiéis defuntos, rezando pelo descanso eterno de suas almas. Entre os católicos a tradição é orar pelos defuntos e no possível celebrar a Santa Missa por seu eterno descanso. Diz a Liturgia: "Dá-lhes, Senhor, o descanso eterno e brilhe para eles a luz eterna". Já Santo Agostinho disse: "Uma lágrima se evapora, uma flor murcha, só a oração chega ao trono de Deus". Por isso, rezemos pelos que nos precederam.
Que as almas dos fiéis defuntos, pela misericórdia de Deus, descansem em paz!
† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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