domingo, 26 de fevereiro de 2012

Que música se deve utilizar na Comunhão? (Mp3).


A distribuição da Sagrada Comunhão aos fiéis, na Santa Missa, se acompanha comumente de música. Como toda a música da Liturgia, são prescritas pela Igreja, para este momento, peças musicais específicas, que chamamos informalmente de “comunhões”, cujo nome exato é “antífonas da comunhão”.

Já falamos, aqui no Salvem a Liturgia, sobre a antífona da Comunhão, na série sobre o Próprio. Chega o momento de nos referirmos a ela mais uma vez. A diferença é que nos concentraremos na Forma Ordinária do Rito Romano (introduzida no ano litúrgico de 1970), buscando inclusive propor passos que se podem dar na Liturgia da paróquia em que o leitor assiste à Missa (ou, quem sabe, até mesmo na paróquia em que o leitor celebre a Missa, sendo ele um sacerdote).
A comunhão possivelmente seja um dos primeiros momentos a se abordar na restauração musical das celebrações litúrgicas. Uma vez que o fiel recebe a espécie sagrada, deixa de cantar, se estava cantando até então, e passa a um momento em que se recolhe. A introdução do canto gregoriano (ou também da polifonia, em resumo: a remoção da música errada e indigna) pode favorecer muito essa atmosfera.

O livro litúrgico que contém a música da Missa é o Graduale Romanum, em primeiro lugar. Trata-se verdadeiramente de um livro litúrgico, repito. Nele se encontram as diversas partes da Missa, inclusive a parte que nos interessa neste momento, a Comunhão. De acordo com este livro, a Comunhão se repete em alguns dias, mas em grande parte temos peças musicais específicas para cada dia (especificidade que se torna muito intensa na Quaresma). Para o fiel da Missa de Domingo, importa dizer que a Comunhão do 4º Domingo do Tempo Comum é uma, e a do 5º Domingo é outra e assim por diante.

(Não se pode, neste momento, dizer que isso é difícil e que então temos que usar pop litúrgico repetido toda semana e que o povo conheça da televisão e das bandas católicas. Estamos aqui seguindo uma linha de raciocínio de acordo com os livros litúrgicos e as instruções da Igreja.)

O Graduale Simplex, por sua vez, contém algumas antífonas para a Comunhão que se podem usar durante todo um tempo litúrgico determinado. Por se destinar a igrejas menores, em que normalmente não há cantores treinados para o Graduale Romanum, apresenta melodias mais simples.

Além do Graduale Simplex, o próprio Graduale Romanum de 1974 nos dá uma lista de sete antífonas que podem ser usadas em qualquer Missa. São as chamadas antífonas eucarísticas ad libitum, encontráveis na página 391 daquele livro, ao final do Tempo Comum. Ao procurar essa página, o leitor encontrará apenas a lista das antífonas com o número da página em que cada uma se encontra, porque cada uma delas é a antífona da Comunhão de alguma celebração litúrgica do ano. Além de servirem as suas próprias celebrações, essas antífonas se prestam a qualquer Missa porque seu texto faz referência direta à Eucaristia. Lembremo-nos de que as antífonas de Comunhão não necessariamente falam da Eucaristia (isto é mais exceção do que regra); com freqüência elas se referem ao Evangelho que se leu na Missa, ou se relacionam mais com o tempo litúrgico, ou têm ainda alguma outra relação com a Liturgia do dia.

Apresentam-se a seguir, na ordem em que o Graduale Romanum as lista, as sete antífonas eucarísticas ad libitum. Estão aqui o tempo litúrgico respectivo, a origem do texto, o próprio texto em latim, o texto em português conforme o Missal e o número do Salmo do qual se extraem versículos para alternarem com a antífona, sempre de acordo com o Graduale Romanum (lembrando que durante o Tempo Pascal se acrescenta umAlleluia):

1ª – Ego sum vitis vera (“Eu sou a verdadeira videira”). Esta antífona é do Quinto Domingo do Tempo Pascal. Seu texto é Jo 15, 5: “Ego sum vitis vera et vos palmites; qui manet in me et ego in eo hic fert fructum multum”. Em português: “Eu sou a videira, vós os ramos, diz o Senhor. Quem permanece em Mim e Eu nele dá muito fruto”. Alterna-se com versículos do Salmo 79.

2ª – Gustate et videte (“Provai e vede”). Esta antífona é do 14º Domingo do Tempo Comum, e de toda a 14ª Semana, exceto do Sábado. Seu texto é Sl 33, 9: “Gustate et videte quoniam suavis est Dominus; beatus vir, qui sperat in eo”.  Em português: “Provai e vede como é bom o Senhor; feliz o homem que nEle se abriga”. Alterna-se com versículos do Salmo 33.

3ª – Hoc corpus (“Este corpo”). Esta antífona é da Quinta-feira Santa, e também prescrita para a Solenidade de Corpus Christi no ano C. Seu texto é 1Cor 11, 24.25: “Hoc corpus, quod pro vobis tradetur; hic calix novi testamenti est in meo sanguine, dicit Dominus; hoc facite, quotiescumque sumitis, in meam commeorationem.” Em português: “Este é o Corpo que será entregue por vós; este é o Cálice da Nova Aliança no Meu Sangue, diz o Senhor. Todas as vezes que os receberdes, fazei-o em Minha memória”. Alterna-se com versículos do Salmo 22.

4ª – Manducaverunt (“Comeram”). Esta antífona é do Sexto Domingo do Tempo Comum e de toda a Sexta Semana, exceto da Sexta-feira e do Sábado. Seu texto é Sl 77, 29.30: “Manducaverunt, et saturati sunt nimis, et desiderium eorum attulit eis Dominus; non sunt fraudatia desiderio suo”. Em português: “O Senhor deu-lhes o Pão do Céu; comeram e ficaram saciados”. Alterna-se com versículos do Salmo 77.

5ª – Panem de caelo (“Pão do Céu”). Esta antífona é do 18º Domingo do Tempo Comum e de toda a 18ª Semana, exceto da Sexta-feira. Seu texto é Sab 16, 20: “Panem de caelo dedisti nobis, Domine, habentem omne delectamentum, et omnem saporem suavitatis”. Em português: “Vós nos destes, Senhor, o Pão do Céu, que contém todo sabor e satisfaz todo paladar”. Alterna-se com versículos do Salmo 77.

6ª – Panis quem ego dedero (“O Pão que Eu darei”). Esta antífona é do 19º Domingo do Tempo Comum e de toda a 19ª Semana, exceto do Domingo do ano C. Seu texto é Jo 6, 52: “Panis , quem edo dedero, caro mea est pro saeculi vita”. Em português: “O Pão que Eu darei é a Minha Carne para a vida do mundo”. Alterna-se com versículos do Salmo 110.

7ª – Qui manducat (“Quem come”). Esta antífona é da Solenidade de Corpus Christi, exceto no ano C quando a antífona é “Hoc corpus”, terceira desta lista. Seu texto é Jo 6, 57: “Qui manducat carnem meam, et bibit sanguinem meum, in me manet, et ego in eo, dicit Dominus. Em português: “Quem come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue permanece em Mim e Eu nele, diz o Senhor”. Alterna-se com versículos do Salmo 118.

Observemos o tema eucarístico em todas estas antífonas. Não poderia estar ausente desta lista a antífona da Comunhão de Corpus Christi, justamente a sétima.

Vejamos ainda como se facilitou a presença do canto gregoriano na Missa. Se para um coro ou cantor é difícil demais aprender uma Comunhão diferente toda semana, pode-se estudar algumas destas, ou todas – ou mesmo uma só! Se mesmo estas antífonas forem difíceis, existe o Graduale Simplex, com peças musicais silábicas, do qual o coro não é obrigado a escolher mais do que uma a cada tempo litúrgico. Vê-se que, além de ter mantido o Graduale Romanum e, conforme o pedido do Concílio Vaticano II, elaborado o Graduale Simplex, foi colocado (no caso da Comunhão) um nível intermediário entre eles, a lista das sete antífonas eucarísticas ad libitum.

Nenhum momento da Missa, nem a Comunhão, é hora para música pop, nem rock, nem valsa, nem marcha-rancho, nem canção sertaneja, nem qualquer outro gênero popular. A reforma litúrgica facilitou muito o uso do canto gregoriano. Entretanto, os documentos e os livros não podem cantar por si mesmos nas Missas. Quem precisa fazer isso são as pessoas, e se tantas delas decidiram tomar caminhos heterodoxos na Liturgia, de quem é a culpa?

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O Salvem a Liturgia oferece a seus leitores as sete antífonas eucarísticas ad libitum em português, em notação gregoriana, incluindo os versículos dos salmos para se alternarem com a antífona respectiva. As melodias são de composição recente, e, embora guardem algumas semelhanças com canto gregoriano, não se limitam a adaptar melodias gregorianas específicas (o que também se pode fazer).

Para receber a partitura gregoriana da primeira antífona, o leitor enviará um e-mail ao autor deste texto no endereço alfredo arroba salvemaliturgia ponto com, solicitando-a. Será então enviada em pdf.

As antífonas seguintes estarão disponíveis muito em breve, e possivelmente sem necessidade de se as pedir por e-mail.

O uso litúrgico (e didático) e a difusão de tais partituras é livre, mantendo-se apenas a menção ao Salvem a Liturgia.

Por Alfredo Votta

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