domingo, 25 de outubro de 2009

Invasão dos monstros marinhos.


25.07.2009 - Reportagem da Revista ISTO, ediçao de julho 2009.

Desequilíbrio ecológico faz com que algumas espécies, letais ao homem, deixem o fundo dos oceanos e ocupem a costa de diversos países.
Exemplares de lulas gigantes estão aterrorizando mergulhadores e banhistas em San Diego, nos EUA
Acena atípica aconteceu num final de tarde em Oceanside, praia de San Diego, na Califórnia. Banhistas saíram amedrontados do mar. Mergulhadores profissionais nadaram fortemente para alcançar a areia - e estampavam no rosto assombro e preocupação. Surfistas recuaram de um momento para outro. "Estava sobre a prancha quando percebi a movimentação das pessoas. Mergulhei e vi uma criatura marinha de quase dois metros de comprimento", diz o americano John Guilmette. Ele se deparou, naquela abafada tarde, com uma lula gigante que pesa cerca de 45 quilos, pertence à espécie Humboldt e ataca o que encontra pela frente.

Segundo biólogos dos EUA, mais de duas mil Humboldt foram vistas na costa da Califórnia na semana passada, e a surpresa está no fato de que elas viviam, até então, nas profundezas do oceano Pacífico. Também nas Ilhas Balneares e em diversos pontos do litoral da Catalunha a cena se repetiu: a medusa caravela-portuguesa, cujo veneno é um dos mais letais que se conhece, apavorou os banhistas. Na costa norte da Austrália, os "monstros" também se fizeram presentes sob a forma da água-viva "vespa do mar". Mas há mais: no Japão uma quantidade incalculável de águas-vivas gigantes se espalhou pela água. Cabe a questão: por que esse fenômeno? Biólogos marinhos são unânimes: ele é fruto do desequilíbrio ambiental.
"Estamos sendo invadidos por um número gigantesco de águas-vivas. São mais de 300 milhões delas e esse movimento migratório prova que o oceano está doente. Elas estão à procura de alimento", diz o biólogo e oceanógrafo japonês Shinichi Eu, da Universidade de Hiroshima. A água-viva gigante que está atacando os pescadores no Estreito de Tsushima chega a medir dois metros de diâmetro e pesa cerca de 200 quilos. A indústria pesqueira japonesa estima que o ataque causará um prejuízo de US$ 320 milhões.
Na mesma situação, e com alto risco de morte, estão os australianos que habitam áreas costeiras. Lá há o avanço da água-viva vespa do mar. Ela é linda. E agressiva. A ação de seu veneno é tão rápida e potente que a vítima não tem tempo de nadar para a praia, morre no mar. Quem mergulha na Grande Barreira de Corais australiana, um dos cartões-postais do país, sabe da existência de um pequenino "monstro" de 12 centímetros de comprimento chamado polvo de anéis azuis. Inversamente proporcional ao seu tamanho é a potência de seu veneno: aniquila 20 homens.
O fato é que a morte de muitos corais, devido à acidez do mar, quebrou a cadeia alimentar - desapareceram caranguejos e camarões e, com isso, o polvo de anéis azuis aproxima-se cada vez mais da costa para suprir suas necessidades. O governo da Austrália acaba de mon tar um plano de emergência tentando proteger os banhistas.
MIGRAÇÃO A falta de nutrientes causada pela acidez dos oceanos obriga os animais a mudar de hábitat
Na paradisíaca Península Ibérica o ataque em massa da caravela-portuguesa atraiu pesquisadores de toda a comunidade científica europeia. "O aquecimento global é a esfera maior. Em uma de suas camadas está o desequilíbrio ambiental", diz o analista geográfico da Universidade de Alicante Jorge Olcina. "Fizemos diversos estudos e comprovamos que há uma série de desequilíbrios no ecossistema do mar. Isso se traduz na proliferação de medusas que estão invadindo praias da Catalunha." Foi o mesmo fenômeno que se deu na Califórnia. Milhares de lulas com mais de um metro de comprimento, dotadas de cortantes tentáculos, invadiram as águas de San Diego. "Todos ficaram assustados por nadar lado a lado com um monstro das profundezas.
Nossas máscaras foram envolvidas por tentáculos", diz o biólogo marinho americano John Hyde. Ele acrescenta que essa espécie de lula é conhecida como "diabo vermelho" e que seu comportamento se alterou: "Sempre viveram em águas profundas da América Central, mas agora passaram a invadir o sul da Califórnia. Temos de prestar atenção a esses sinais da natureza." Em outras palavras, o sinal dado por esse movimento migratório é o da falta de alimentos e do declínio no número de predadores naturais. (fim)
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Lembrando...
Alerta: 41% dos oceanos do mundo foram afetados pelo impacto de ação humana
15.02.2008 - Um mapa feito por cientistas norte-americanos e divulgado nesta sexta-feira na revista científica "Science" mostra que 41% dos oceanos do mundo foram afetados, em menor ou maior grau, pela ação humana.
Para mapear o impacto da atividade humana nos ecossistemas marítimos, os cientistas da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, nos Estados Unidos, fizeram uma sobreposição de 17 mapas que demonstravam o impacto de fatores diversos, como a pesca, a poluição e a mudança climática.
Os mapas foram feitos com base em um estudo que analisou o impacto dos seres humanos em ecossistemas como os recifes de corais, as colônias de algas marinhas, plataformas continentais e os oceanos profundos.
O mapa mostra que as áreas mais afetadas pelo impacto humano são o Mar do Norte, Mar da China Oriental e Meridional, Mar do Caribe, a costa leste da América do Norte, os mares Mediterrâneo e Vermelho,o Golfo Pérsico, o Mar de Bering e várias regiões do Pacífico Oeste.
O estudo indica ainda que as áreas menos afetadas são aquelas próximas aos pólos.
"Este projeto nos permite começar a ver o cenário do impacto dos humanos nos oceanos", diz Ben Halpern, que liderou o estudo.
"Os resultados mostram que, somados, os impactos individuais revelam uma situação muito pior do que imagino que as pessoas esperavam. Certamente foi uma surpresa para mim", afirma.
Brasil
Segundo os cientistas, a influência dos humanos varia de forma significativa de acordo com cada ecossistema. Nas áreas mais afetadas, por exemplo, há grande concentração de recifes de coral, algas marinhas, mangues e montanhas marinhas.
Já os ecossistemas menos afetados são áreas de oceanos abertos e onde o fundo do mar é mais liso.
O mapa revela que em grande porção da costa brasileira, o impacto dos humanos é "médio alto", o que indicaria uma influência de 4,95 até 8,47%.
No entanto, enquanto algumas áreas na costa sul do Brasil o impacto aparece mais ameno, uma grande faixa da costa sudeste do país revela um impacto alto, maior que 15,52%.
Processo
A pesquisa envolveu quatro etapas. Na primeira, os cientistas desenvolveram técnicas para quantificar e comparar o impacto das atividades humanas em diferentes ecossistemas.
Na segunda etapa, a distribuição dos ecossistemas e das influências humanas foi analisada. Os cientistas então combinaram as duas informações - a distribuição e o impacto - para determinar "os índices do impacto humano" para cada região do mundo.
Finalmente, os cientistas usaram estimativas sobre as condições dos ecossistemas marítimos já disponíveis para fundamentar ainda mais os índices levantados pela pesquisa.
Os cientistas afirmam que, apesar dos esforços, o mapa ainda é incompleto, já que os dados sobre algumas atividades humanas ainda é escasso.
Futuro
Apesar do cenário revelado pela pesquisa, os cientistas sugerem que ainda há tempo para tentar preservar os oceanos.
"Há certamente espaço para a esperança", diz Carrie Kappel, que participou do estudo. "Com esforços para proteger as porções dos oceanos que ainda continuam puras, temos uma boa chance de preservar estas áreas em boas condições", afirma.
De acordo com o estudo, o mapa poderá servir como referência para o desenvolvimento de políticas de conservação e manutenção, além de oferecer informações sobre o impacto de certas atividades.
"O homem sempre usará os oceanos para recreação, extração de recursos e outras atividades comerciais, como o transporte marítimo. O que precisamos é fazer isso de forma sustentável para que os oceanos continuem saudáveis e continuem a nos oferecer os recursos que precisamos", conclui Halpern.

Fonte: UOL notícias

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Para que você possa comentar é preciso estar logado.