Comentário de Lucia Zucchi
O nonagenário Monsenhor Loris Capovilla, secretário do Papa João XXIII, deu ontem uma entrevista à Radio Vaticana, a respeito da convocação do Concílio Vaticano II, cuja abertura fará cinquenta anos daqui a alguns meses.
Surpreendentemente, o evento que abalou de tal modo a Igreja parece, nas lembranças de Mons.Capovilla, ter sido pensado um tanto casualmente, anunciado com displicência e organizado com tal desapego da parte do Papa, que lembra a indiferença.
Outro terminaria o Concilio… Como não se lembrar da palavra de Nosso Senhor:“Quem de vós, querendo fazer uma construção, antes não se senta para calcular os gastos que são necessários, a fim de ver se tem com que acabá-la? Para que, depois que tiver lançado os alicerces e não puder acabá-la, todos os que o virem não comecem a zombar dele, dizendo: Este homem principiou a edificar, mas não pode terminar” (São Lucas 14, 28-30) ? Que frase misteriosa essa do Papa! A não ser que o Concílio lhe tivesse sido sugerido por outros, que se encarregariam de leva-lo ao termo desejado.
O que resultou desse projeto? O Papa João XXIII queria algo novo… Pois bem, para muitos foi algo radicalmente novo – como uma nova Igreja!
Há cinquenta anos da convocação do Concilio, Mons. Capovilla evoca os sentimentos de João XXIII
Tradução Montfort
Quando o Papa me falou disso a primeira vez, era Papa há apenas cinco dias. Fez um gesto vago e me disse: “Sobre a minha mesa se despejam tantos problemas, interrogações e preocupações. Eu queria alguma coisa de singular e de novo, não apenas um Ano Santo”. No Código de Direito Canônico, na época reformado há pouco tempo, há um capítulo chamado “De Concilio Ecumenico”. Mais adiante, me falou disso outra vez e eu fiquei sempre em silêncio.
Veio depois aquela noite de 21 de dezembro de 1958, ele voltou a falar disso e me disse: “Seu superior lhe acenou com esse grande plano, parece-lhe ser uma inspiração do Senhor? Até agora você não disse nem uma palavra…” E tocando-me o braço, disse: “O fato é que você raciocina um pouco humanamente, como um empresário que faz um projeto e chama o arquiteto, os consultores, que se entende com os bancos. Para nós, porém, é já um grande dom de Deus aceitar uma boa inspiração e falar nela. Não pretendo chegar a celebra-lo, a mim basta anuncia-lo” (…)
Também diante de todos aqueles que diziam que isso requeria uma grande coragem, na sua idade, ele respondia que não era ele que deveria faze-lo: “O Concilio, quem o faz é o Senhor, o faz a Igreja no seu conjunto. Nós somos as sentinelas do momento. Depois de um Papa, vem um outro”.
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