quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

"Para a Vida do mundo..." (Jo 6,51).

"PARA A VIDA DO MUNDO..." (Jo 6,51)

A Igreja na América Latina foi impressionada em julho pp, pelo Congresso Missionário Internacional de Belo Horizonte. Lembrou, entre outras coisas, a permanência do dever missionário que toca a todo fiel católico num mundo que ainda desconhece Jesus Cristo em larga escala. Os debates suscitaram a questão: como conceber a salvação daqueles que ignoram Jesus Cristo ou não Lhe aderem?

Em 1964 o Concílio do Vaticano II respondeu a tal quesito, explicitando o que já estava na consciência da Igreja:

"O Salvador quer que todos os homens se salvem (cf. 1Tm 2,4). Por conseguinte, aqueles que, sem culpa, ignoram o Evangelho de Jesus Cristo e sua Igreja, mas buscam a Deus com coração sincero e tentam, sob o influxo da graça, cumprir por obras a sua vontade conhecida através do ditame da consciência, podem conseguir a salvação eterna. A Providência Divina não nega os auxílios necessários à salvação àqueles que, sem culpa, ainda não chegaram ao conhecimento expresso de Deus, e se esforçam, não sem a divina graça, por levar uma vida reta" (Const. Lumen Gentium n°16).

Este belo texto começa lembrando que Deus quer a salvação de todos indistintamente. Para tanto, dá a alguns o conhecimento do Evangelho e dos sacramentos, que santificam - o que acarreta grande responsabilidade. A outros faz-se presente de outros modos, ou seja, mediante a cosmovisão que cada um professa. Se os não-católicos têm a consciência reta e cândida, professando sem hesitação o que professam, como sendo a verdade, e se procuram viver de acordo, estão seguindo a voz de Deus. Se o Senhor não lhes revela o Evangelho, não os julgará segundo os critérios do Evangelho, mas, sim, conforme a fidelidade de cada qual aos ditames da sua consciência sincera. Notemos que o texto conciliar insiste muito sobre dois pontos: 1) "ignoram sem culpa própria.,.", o que quer dizer: sem fugir à verdade, sem opor obstáculo ao Evangelho, e 2) "levam uma vida reta, procurando por em prática o Credo que julgam verídico", ou seja, sacrificando-se por ser fiéis à voz da consciência reta, que, em última análise, é a voz de Deus.

A grande incógnita que fica é a existência de boa fé ou sinceridade no coração humano. Só Deus pode sondar as consciências e saber até que ponto alguém professa o erro sem culpa própria. O Senhor, porém, age em cada um, chamando-o a ser salvo por Cristo e a Igreja, embora ignorem o Cristo e sua Igreja e a Igreja os ignore. "O Espírito Santo oferece a todos a possibilidade de se associarem ao mistério de Páscoa, de modo conhecido por Deus só" (Const. Gaudium et Spes n° 22).


Dom Estêvão Bettencourt (OSB)

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