sábado, 17 de dezembro de 2011

Quarto Domingo do Advento.

O depósito da Revelação


O Evangelho de hoje é uma introdução majestosa ao grande acontecimento do nascimento de Jesus Cristo.


A figura saliente deste belo quadro é João Batista, pregando o batismo de penitência como está escrito no livro das palavras do Profeta Isaías.


Esta frase nos mostra que o Precursor não pregava uma doutrina nova, pessoal, mas ia tirando do Depósito da revelação tudo o que ensinava.


Nós também temos este Depósito, o mesmo, porém, mais completo do que o de João Batista.


Para ele havia a revelação divina feita a nossos primeiros pais, a Moisés e aos Profetas, enquanto, além disto, nós temos as palavras de Jesus Cristo e dos Apóstolos.


Meditemos hoje sobre este assunto, considerando a dupla fonte da Revelação, formando um único Depósito, a saber:


1. A Sagrada Escritura;
2. A Tradição católica


Teremos, deste modo, uma idéia clara sobre o fundamento da religião e sobre a firmeza imutável de seus princípios.


I. A Sagrada Escritura


As verdades reveladas e os preceitos impostos pela revelação estão contidos na Sagrada Escritura e na Tradição.


A primeira parte da Sagrada Escritura, a que chamamos: Antigo Testamento, contém as revelações feitas antes de Jesus Cristo; enquanto o Novo Testamento contém as revelações feitas pelo próprio Jesus Cristo e pelos Apóstolos.


Temos a plena certeza da integridade e autenticidade da Sagrada Escritura, pela autoridade infalível da Igreja, que demonstraremos mais adiante.


Notemos bem que a Sagrada Escritura é a palavra de Deus, escrita sob a inspiração do Espírito Santo, tendo Deus por autor e transmitida como tal pela Igreja. (Conc. Trento: De fide II)


Sendo a Bíblia a palavra de Deus, não é a aprovação da Igreja que faz que seja a palavra de Deus. A Igreja infalível, para evitar todo equívoco ou dúvida da parte de seus filhos, declara que tal livro, e não um outro, é a Sagrada Escritura e, portanto, a palavra de Deus.


A Igreja proclama um fato, mas não é causa deste fato.


Sabemos e cremos, por exemplo, que o Evangelho contém a vida, atos de doutrina de Jesus Cristo, mas qual entre os vários livros, que têm este nome, é o Evangelho autêntico?


É a autoridade infalível da Igreja que nos dá a certeza. Sem esta autoridade, o Evangelho será sempre a palavra de Deus, mas ninguém saberá distinguir qual o Evangelho verdadeiro.


Nossos sentimentos para com a Sagrada Escritura devem ser de respeito profundo, pois devemos o mesmo respeito à palavra de uma pessoa que a própria pessoa.


É Deus que levou tal homem a escrever, instruindo-o do que devia escrever, sugerindo-lhe o fundo das verdades e o modo de dizê-las, conduzindo-o pela graça, de modo que não pode errar. Tudo o que escreveu tem por autor o próprio Deus, sendo, pois, a Sagrada Escritura: palavra de Deus.


II. A Tradição


A Tradição, rejeitada ilógica e anti-biblicamente pelos protestantes, é também a palavra de Deus, porém, a sua palavra não escrita por homens inspirados, mas transmitida oralmente e escrita depois pelos católicos dos primeiros séculos.


Não pode existir dúvida a respeito da existência da Tradição, pois é certo que tudo que fez e disse o Salvador não foi escrito, como no-lo afirma São João, no fim de seu Evangelho: Muitas outras coisas há que fez Jesus: as quais, se se escrevessem, nem o mundo todo poderia conter os livros que seria preciso escrever. (Jo. XXI. 25)


São estas as coisas que Jesus disse e fez e que não foram escritas, que chamamos Tradição.


São Paulo escreve aos Tessalonicenses: Permanecei firmes e guardai as tradições que aprendestes, ou por nossa palavras, ou nossa carta. (2. Thess. II. 14)


Esta recomendação do Apóstolo prova que ele não ensinara tudo por escrito, mas que pregou muitas coisas que não chegou a escrever.


Ora, compreende-se que a palavra falada de uma pessoa tem tanto valor quanto a sua palavra escrita. É a mesma palavra: o que difere é apenas o meio de transmissão.


Aqui de novo deve intervir a autoridade infalível da Igreja, para declarar que tal tradição em particular vem de Jesus Cristo ou dos Apóstolos.


Ao comparar estas duas vias de transmissão da palavra de Deus, pode-se dizer que a tradição é a mais importante, porque sem ela quem nos certificaria da integridade e autenticidade dos Evangelhos e outros livros sagrados?


Quem nos indica com certeza o sentido de certas passagens obscuras da Bíblia? A Tradição recolhida da Igreja.


Quem ensinou a religião de Cristo antes de serem escritos os Evangelhos? A Tradição.


O Salvador deu aos Apóstolos a missão: não de escrever a sua palavra, mas de pregá-la a todas as nações. (Marc. XVI. 15)


III. Conclusão


Tal é o grande Depósito da Revelação: - a Sagrada Escritura e a Tradição; sendo a primeira escrita por inspiração divina e a segunda pregada pela mesma inspiração, conservada oralmente pelos primeiros fiéis que a transmitiram de pai a filho, até que foi escrita por sua vez pelos escritores da Igreja, que a recolheram, sem assistência especial do Espírito Santo, mas por amor à verdade.


Este Depósito é guardado e apresentado pela autoridade infalível da Igreja, sendo esta mesma autoridade que nos apresenta a Tradição, pela voz do Papa, dos Concílios ou escritos dos Santos Padres, pelos Símbolos da fé, a liturgia, a disciplina da Igreja e os monumentos religiosos dos primeiros séculos.


Esse Depósito sagrado devia, necessariamente, ser confiado a uma sociedade, cuja finalidade é conservá-lo íntegro, interpretar e aplicar estas Revelações, conforme a ordem recebida do divino Mestre: Ide, ensinai todas as gentes a observar todas as coisas que eu vos mandei... e eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos. (Math. XXVII. 19)


Sem este depósito a religião não teria continuidade de existência, nem laço que a prendesse a Deus.


EXEMPLOS


1. Em plena água doce


Pobres náufragos, recolhidos numa canoa, faziam sinais desesperados a um grande vapor americano que passava ao largo. Foram percebidos e socorridos. Estavam morrendo de sede, e com voz fraca diziam: Dai-nos de beber!... água... água!


Admirado, o Capitão perguntou-lhes se sabiam onde estavam.


- Não! Não sabemos de nada!


Estão na embocadura do Amazonas... Estão morrendo de sede e não têm senão de estender a mão para beber: estão em plena água doce.


Assim acontece com muitos homens. Querem desalterar a sua sede de religião e não sabem onde encontrar a água doce da verdade... enquanto estão nadando no meio dela, no seio da Igreja Católica, que tem o depósito das verdades divinas na Sagrada Escritura e nas Tradições.


2. O elefante e as tartarugas


O Senhor de Mohrenheim era católico e embaixador da Rússia cismática perto da corte herética da Prússia.


Um dia atacaram a religião católica em sua presença. O caso era delicado, pois tanto o país que representava como a corte onde estava eram inimigos do Catolicismo.


O embaixador não desanimou e não querendo magoar a ninguém, nem deixar insultar a sua fé, pediu licença para fazer uma simples observação e disse:


A cosmogonia indiana representa o mundo sob a forma de um elefante, tendo as quatro patas em cima de enormes tartarugas.


Que é que sustenta as tartarugas? Os índios não o dizem.


O sistema religioso deles está, pois, no ar, sem base: é falso.


O protestantismo como o Catolicismo apóia-se sobre os quatro Evangelhos... mas sobre que apóia-se a autenticidade destes Evangelhos? Não admitem nada além do Evangelho... Logo, o sistema deles é tão falso e errado como o dos índios.


O Catolicismo apóia-se sobre os quatro Evangelhos e estes Evangelhos são sustentados, declarados autênticos, pela Tradição e a autoridade. Logo, é o único sistema religioso que tem uma base certa.


Ninguém replicou a esta demonstração; e até hoje as quatro tartarugas enormes do budismo como do protestantismo continuam suspensas no ar, enquanto o Evangelho católico está seguro e indefectível sobre a Tradição e a autoridade.


(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 38 - 44)




Fonte

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